Por Nádia Conceição
O candidato mais jovem na disputa do cargo de governador do Estado da Bahia é Carlos José Bispo do Nascimento, do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) . Com 33 anos, é soteropolitano e nasceu no dia 19 de março de 1977. Está solteiro e é formado em pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb).
De forma tímida - já que tinha que estudar e trabalhar na época - iniciou, em 2006, sua trajetória política dentro do espaço da universidade participando de pequenos movimentos grevista da universidade. Mais a frente, participou ativamente de um coletivo, que inicialmente era dos estudantes dos cursos de saúde da Uneb, no qual discutia e fazia intervenções quanto o papel da educação dentro da universidade. A partir daí, não parou mais e começou a conhecer e lutar pela educação.
No coletivo, participou de mobilizações, intervenções, greves. Apoiou movimentos na universidade, assumiu a direção dentro da executiva, que foi a executiva baiana de pedagogia e da nacional. Atualmente, atua como professor da rede municipal de ensino da cidade de Camaçari (a 45 km de Salvador). O jovem, que torce pelo Esporte Clube Bahia e se emociona quando lembra do seu filme preferido na infância, "Os Saltimbancos Trapalhões", defende o projeto de mudança radical proposto pelo PSTU, principalmente nas áreas de educação e saúde. Ele reclama da discriminação que sofre da imprensa, diz que vai aumentar o salário mínimo e revogar o Reda, caso seja eleito. Confira:
Teia de Notícias: Quem é Carlos Nascimento?
Carlos Nascimento: Eu sou um professor, uma pessoa alegre, divertida e que gosta de viver. Tenho uma preocupação social muito grande e gostaria, de fato, que os trabalhadores e trabalhadoras tivessem uma vida melhor, mais digna, já que trabalham tanto, produzem tantas riquezas para esse país, para esse Estado, e acabam não usufruindo nada delas. Só trabalham e são explorados, vivem em condições muito ruins, indignas, muitas vezes.
TN: Qual a sua visão do tratamento que a mídia dá aos candidatos aqui na Bahia?
CN: É discriminatória. A mídia não privilegia os partidos menores, e temos visto isso nessas campanhas. É claramente um verdadeiro boicote a algumas candidaturas, que eles atribuem como pequenas. Tanto a minha quanto a do candidato Sandro Santa Barbara (PSC). Praticamente não aparecemos na mídia, as pessoas falam, se queixam que não é mostrada a minha agenda nas agendas dos candidatos dos grandes jornais, mesmo a minha assessoria enviando-a todos os dias para a imprensa, mas não é divulgada, em virtude de ser uma candidatura pequena, de um partido pequeno. Mas não é só isso. É porque somos um partido que questiona essa ordem que é posta hoje, a de manutenção dos interesses dos grandes empresários, a manutenção da exploração e da alienação. Então, em virtude disso, somos um partido bastante atacado e uma forma de ataque é colocar de escanteio mesmo.
TN: Estratégias para driblar o “boicote”?
CN: Estamos fazendo as denúncias, nos poucos espaços que nós temos, como este aqui, do Teia de Notícias. Enfatizamos que não se trata de uma mania de perseguição. É, de fato, um boicote e outra forma de burlar esse movimento é continuar divulgando nossa campanha e propostas onde estivermos. Continuamos a conversar, a discutir com os trabalhadores e trabalhadoras, a nos reunirmos nos espaços que temos receptividade.
Sabemos da importância da mídia hoje em dia, pois hoje ela realmente age como formadora de opinião, mas nem por isso pararemos a nossa candidatura e nossa campanha em virtude de não termos espaços e, consequentemente, uma visibilidade, que deveria ser de todos os candidatos, não só a minha. Quando falo da questão de o espaço não ser democrático a todos, não estou falando apenas do PSTU, mas por todos os partidos que estão sofrendo esse tipo de boicote, de não aparecer, de não serem chamados para os debates, de não ter mandados parlamentares. O que acontece com isso é a negação do direito dos trabalhadores e das trabalhadoras de conhecerem todos os candidatos.
CN: Para mim, não seria um governo só do Carlos Nascimento, mas um governo com perspectivas do trabalhador do Estado. Seria um governo de participação popular dos trabalhadores e do movimento negro na direção desse Estado e, consequentemente, no repasse das riquezas, das benesses que esse Estado proporciona.
TN: Quais suas principais propostas?
TN: Quais suas principais propostas?
CN: Temos como eixo central da campanha a questão racial e da educação. Então, para nós, é crucial modificar a estrutura da Polícia hoje, pois ela serve para o extermínio da juventude negra nas periferias. Temos que mudá-la, tornar a polícia unificada e democratizada, e sob o controle dos trabalhadores. É um absurdo que a policia só sirva para reprimir e para matar a juventude negra. Então, essa é uma estrutura racista, essa seria uma de nossas propostas.
A solução dos problemas da educação, saúde e infraestrutura está em atacar aqueles que são beneficiados por eles. Aí, temos que pensar no fim das isenções dadas a essas grandes empresas e o não pagamento da dívida pública. A partir dessas duas medidas, estaremos contendo investimento, dinheiro para investir nos setores como educação, saúde e, consequentemente, proporcionar salários dignos ao trabalhador, ao professor, dá condição para que eles possam desenvolver um bom trabalho.
A questão da saúde seria resolvida com a realização de concursos públicos. Enfim, acabando com as isenções e concessões dos hospitais privados, pois é um absurdo que o Sistema Único de Saúde (SUS) funcione em um hospital privado, que o Estado pague a um hospital privado para atender gratuitamente, mas esse atendimento é visivelmente deficitário. O melhor seria investirmos em hospitais públicos e em sua ampliação, o que culminaria em um atendimento de qualidade aos trabalhadores do Estado.
TN: Qual seria sua primeira medida, se eleito governador, em outubro?
CN: Seria chamar os movimentos sociais para discutir quais as necessidades e as carências de todos os setores que temos hoje. A parceria do nosso governo seria apenas com os movimentos sociais de lutas e os trabalhadores e trabalhadoras do Estado. Apenas aceitaríamos alianças partidárias com partidos que estivessem de acordo com os nossos programas, consequentemente, os de esquerda.
CN: Seria chamar os movimentos sociais para discutir quais as necessidades e as carências de todos os setores que temos hoje. A parceria do nosso governo seria apenas com os movimentos sociais de lutas e os trabalhadores e trabalhadoras do Estado. Apenas aceitaríamos alianças partidárias com partidos que estivessem de acordo com os nossos programas, consequentemente, os de esquerda.
TN: Você acredita que seria possível aumentar o salário mínimo no governo do PSTU?
CN: Essa é uma bandeira nossa. É possível sim, se pararmos de dar isenções fiscais e concessões. Para se ter uma ideia, a Ford, quando foi instalada na Bahia, não pagava impostos, teve suas tarifas reduzidas, juros menores, que a maioria dos trabalhadores pagavam. Até a terra planagem para instalação da empresa foi feita com o dinheiro do Estado, dinheiro dos trabalhadores, pois o dinheiro do Estado é o recolhimento dos impostos dos trabalhadores. Assim que terminarmos de modificar essa lógica, teríamos dinheiro, recursos suficientes para investir nesses setores e aumentar o número de empregos e também melhorar os salários. Defendemos também a redução da jornada de trabalho, pois com um salário digno o trabalhador precisa também ter um tempo para o ócio, descansar, se divertir, ter acesso à cultura, à arte e para viajar nos fins de semana. Hoje, o trabalhador trabalha de segunda a domingo.
TN: Como pedagogo, quais suas principais alterações na educação?
CN: Temos que pensar o que é priorizado hoje em dia. Não vemos os interesses da educação pública como prioridades. Com isso, não se tem também a priorização dos recursos para a área da educação, que implica a valorização do profissional, com melhores condições de trabalho. Para nós, do PSTU, a valorização do trabalho está relacionada com a melhoria das condições de trabalho para os profissionais de educação de todos os níveis, não uma melhoria de salários apenas para professores, mas também para o secretário, o vigilante, a cozinheira, o pessoal da limpeza. Pensar esse processo é pensar em acabar com as isenções, em concessões de escolas e universidades privadas, é discutir o ProUni, pois é dinheiro do Estado que vai para as universidades disponibilizarem vagas remanescentes e não a criação de novas vagas para estes estudantes, o que deveria ser feito. Se hoje se tem condições de dar recursos para universidades particulares, também temos condições de pegar esses recurso e investir nas universidades públicas. Aí, teríamos a ampliação de vagas, a melhoria nas estruturas que estão sucateadas.
TN: Qual o destino dos funcionários do governo aprovados pela modalidade do Reda (Regime Especial de Direito Administrativo)?
CN: Nós faremos a revogação total do Reda. O Estado precisa garantir que os trabalhadores do Reda sejam efetivados, não permitiríamos que eles fossem temporários, com pouco ou quase nenhuma garantia, pois eles não têm estabilidade, sem vários direitos trabalhistas, o que acaba gerando desestímulos para trabalhar podendo sair a qualquer momento. Para nós, o tempo do Reda seria muito curto. Garantiremos que todos esses trabalhadores sejam efetivos e não temporários.
TN: Uma mensagem ao eleitor?
CN: Trabalhadores e trabalhadoras da Bahia: nessa eleição, há diversos candidatos, mas apenas dois projetos: um que garante a manutenção da burguesia, do grande empresariado, que por sinal financiam essas candidaturas. O outro projeto é o do PSTU, que defende incondicionalmente os interesses dos trabalhadores e trabalhadoras, negros e negras, um programa socialista e nacionalista, para que eles possam usufruir das riquezas do país. Essa é uma alternativa nacional. Portanto, para avançarmos no âmbito estadual é preciso avançar também nacionalmente, objetivando uma nação socialista e para todos. E acreditando nisso defendemos o programa de Zé Maria para presidente da República.
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