Fã do socialismo soviético – para ele, bem sucedido até a morte de Lênin –, o candidato lembra, de um período de “grandes avanços econômicos, tecnológicos, científicos, na área das artes etc”, como se, com seus jovens 33 anos, tivesse vivido aquele período. “A História conta”, garante. O professor Carlos fala em “extermínio da juventude negra” e diz que a repressão policial aos jovens da periferia tem sido pior no governo Jaques Wagner (PT), “por incrível que pareça”. Para ele, não há o que se considere “louvável” na gestão petista, já que não houve ganhos do ponto de vista dos trabalhadores. Sem o menor receio de se considerar o mais radical dos candidatos, critica até outros nanicos socialistas, dizendo que eles defendem programas de governo de cunho “democrático-popular”.
Ao ser questionado pela reportagem do nublog sobre seus livros de cabeceira, a resposta já diz um bocado sobre as ideias que ele defende: “Agora, quero me debruçar sobre os clássicos de Trotsky ‘A Revolução Permanente’ e ‘A Revolução Traída’”. Formado em Pedagogia e ex-militante do movimento estudantil da Uneb, o professor Carlos Nascimento trabalha como educador na rede municipal de Camaçari e concorre, no pleito de 2010, ao governo do Estado pelo PSTU. Favorável à legalização das drogas e do aborto, apresenta sua candidatura como uma alternativa, “negra e socialista”.
FiChA tÉcNiCa
Nome: Professor Carlos Nascimento
Partido: PSTU
Idade: 33
Profissão: professor da Rede Municipal de Camaçari
Estado civil: solteiro
Naturalidade: Salvador
Escolaridade/ Formação acadêmica: graduado em Pedagogia
Mandatos e cargos no Executivo, Legislativo e Judiciário: nunca exerceu
Filhos: não
Animais de estimação: não
Prato preferido: feijão de leite
Música que ouve: “Sou eclético, mas ouço muito os mais antigos como Bule Bule, Armandinho e toda a família dele... Simone, Maria Bethânia”
Religião: Não. Acredito em Deus, no máximo... em uma força superior.
Signo: peixes
Hobby: ler. Entre os livros de cabeceira, “Revolução permanente” e “Revolução traída”, ambos de Leon Trotsky.
PoLeMiZaNdO!
Legalização do aborto
Sou a favor. A mulher que vai gerar tem o direito de escolher se vai ou não trazer alguém ao mundo. Ela é quem deve escolher se vai assumir as responsabilidades, os encargos, necessidades, os transtornos que uma gravidez deve trazer. A discussão do aborto deve ser vista como uma questão de saúde pública. Milhares de mulheres acabam morrendo por recorrerem a abortos ilegais que acabam sendo mal-feitos. A maioria dessas mulheres é pobre e negra.
Pesquisa com células-tronco
Concordo. Todo o avanço que vier para resolver os problemas da humanidade são bem-vindos. O câncer é um problema da humanidade. As pesquisas com celulas-tronco são validas, têm que ser incentivadas.
Casamento gay
Sou totalmente favorável. Já deveria ter sido legalizado. Além de ser a favor do casamento, defendo que os direitos civis dos “héteros” sejam iguais aos dos gays. É contraditória a posição de defender os direitos civis e ser contra o casamento, já que os direitos religiosos também integram os direitos civis.
Legalização de drogas
Somos favoráveis à legalização, porque acreditamos que proibir as drogas favorece o tráfico.
Reforma do Código Florestal
A Reforma que está tramitando no Congresso Nacional demonstra, mais uma vez, o predomínio dos interesses do grande empresariado, as grandes madeireiras. Há um retrocesso em relação à preocupação ambiental.
Aumento 7,7% aposentados
Sou favorável. Defendemos também o fim do fator previdenciário, que foi vetado pelo presidente Lula. Com o fator, implementado durante o governo FHC, demora-se mais para se aposentar. O trabalhador brasileiro já fica a vida inteira se dedicando ao trabalho e só se aposenta perto de entrar no cemitério. Somos contra isso. Não seria tão caro para a Previdência derrubar o fator, se levarmos em consideração a dinheirama que a União repassa aos banqueiros – muito mais que os R$ 6 milhões que significariam o fim do fator. O governo Lula é direcionado aos setores mais privilegiados da sociedade, embora consiga sustentar, ante o trabalhador, a imagem de um novo governo, que não deu continuidade aos anteriores. Para o trabalhador, este é o governo “do Lula”.
Redução da jornada de trabalho
Somos favoráveis à redução da jornada sem redução salarial. Essa medida permitiria o aumento do número de empregos e melhoria nas condições de vida dos trabalhadores. Isso porque aliviaria a carga de trabalho e de esforço a que os trabalhadores são submetidos hoje. Com o processo da crise de 2009, muitos trabalhadores foram demitidos, mas não houve recontratação. O que se vê é um trabalhador fazendo o papel de três, quatro.
Financiamento público de campanha
Se esse financiamento fosse igual para todo mundo, para mim não seria problema. Afinal, hoje, o financiamento é determinante na campanha. As candidaturas majoritárias mais fortes são as financiadas por grandes empresas e grandes indústrias privadas. Uma vez eleitos, não vão governar para os trabalhadores, mas sim para as grandes empresas, como tem sido. Defendemos a inversão dessa lógica de reduzir, por exemplo, os impostos para as grandes empresas. Quem deve pagar menos imposto é o trabalhador. Nós defendemos que as grandes empresas, sim, devem ser sobretaxadas.
CoNhEcEnDo O cAnDiDaTo
Como você resumiria sua candidatura em poucas palavras?
Esta é uma candidatura alternativa, negra e socialista que procura inverter a lógica do que está estabelecido. Quem lucra, quem tem muito apoio e muitas concessões do Estado, quem mama todas as benesses proporcionadas pelo Estado não continuaria lucrando no nosso governo. A nossa ideia é inverter isso e beneficiar os trabalhadores.
Por que o eleitor deveria votar em você e não nos outros candidatos (qual o seu diferencial)?
Porque a gente defende uma outra forma de governar, em que os trabalhadores sejam a prioridade. No nosso governo, as riquezas produzidas pelo Estado seriam repassadas, de fato, para os trabalhadores, teríamos melhorias na Educação, na Saúde, maior acesso à cultura – principalmente aos bairros de periferia, onde assistimos ao extermínio da juventude negra. A juventude negra tem sido exterminada pelo governo Wagner, e isso já é uma prática dos governos anteriores.
No caso dos outros candidatos de esquerda, como Marcos Mendes (PSOL) e Sandro Santa Bárbara (PCB), nós os reconhecemos, mas acreditamos que há um limite na radicalização por parte do programa deles. Só nós estamos dizendo que vamos desmilitarizar a Polícia e ter a Polícia controlada pelos trabalhadores. Só nós estamos dizendo que as riquezas do Estado seriam direcionadas aos trabalhadores. A nossa candidatura tem como princípio o socialismo. Nenhum dos outros candidatos diz isso. O PSOL e o PCB defendem programas de cunho democrático-popular, com algumas reformas no capitalismo.
Em qual candidato você não votaria sob nenhuma hipótese? Por quê?
Não votaria, sob nenhuma hipótese, em Jaques Wagner (PT), em Paulo Souto (DEM) ou em Geddel Vieira Lima (PMDB). Embora estes candidatos tenham trajetórias políticas diferentes (especialmente Wagner), entendo que representam um mesmo projeto – o de defender os grandes empresários e atacar os trabalhadores. Não tem como defender os interesses dessas duas classes ao mesmo tempo.
Além de propostas gerais, como melhorar a saúde, a educação e a segurança pública, o que o seu programa tem de realmente inovador?
Entre as propostas, ressaltamos a de “desmilitarizar” a polícia, entregando o controle dessa polícia aos trabalhadores. Criaríamos conselhos de bairros que fiscalizariam a atuação da classe policial. Mas como disse antes, o que há de mais inovador é a inversão da lógica. A riqueza produzida pelo Estado seria repassada para os trabalhadores, não para as grandes empresas. Veja o exemplo da Ford: uma fábrica que, ao vir para a Bahia, teve uma série de concessões. É uma das empresas que mais lucram no país, mas seus trabalhadores têm um dos salários mais baixos. No nosso governo, a tendência seria estimular muito mais as empresas estatais, que têm interesse em investir aqui. Defendemos, em âmbito nacional, a reestatização total da Petrobras, da Vale do Rio Doce, da Embraer etc. Para reestatizá-las, os contratos hoje existentes seriam cancelados.
Quais as três primeiras providências que você tomaria ao assumir o poder?
1) Discutir com os trabalhadores dos principais setores (saúde, educação, cultura etc) o que deveria ser feito para melhorar esses setores.
2) Fazer uma auditoria pública em todas as empresas privadas, para verificar contratos, concessões, licitações, funcionamento...
3) A partir daí, modificaríamos toda a estrutura dessas empresas, tirando-lhe os privilégios e sobretaxando-as. Modificaríamos as regras, impedindo, por exemplo, que empresas que têm lucro demitam trabalhadores.
O que é inadmissível na Bahia, hoje?
Duas coisas principais que considero inadmissíveis são: a continuidade do extermínio da juventude negra nas periferias e a morte de trabalhadores por não terem atendimento à saúde. Mas, de maneira geral, o governo Wagner foi um desastre. Não houve nenhuma melhoria em nenhum setor. Se você for falar com os trabalhadores da Saúde, eles vão dizer que essa é uma das piores gestões na área. Na Educação, a mesma coisa: o governo Wagner não tem respeitado o direito dos trabalhadores (vide questão do pagamento do URV). Por incrível que pareça, acredito que o extermínio da juventude negra nas periferias de Salvador tem piorado nesse governo, que reprime e criminaliza os movimentos sociais como os anteriores (vide greve dos professores da rede estadual em 2007).
O que é louvável na Bahia, hoje?
Da perspectiva desse governo, não consigo identificar nada de louvável. Não há nada que está sendo benéfico para os trabalhadores.
A História antiga e recente mostra: o poder corrompe o homem. Concorda? Por quê?
Não acho que essa corrupção seja algo do homem. É possível optar. Há pessoas, como o Zé Maria (candidato à presidência pelo PSTU), que poderiam estar no poder hoje, mas não se corromperam. Não acredito que todas as pessoas que assumem o poder vão se corromper. Para evitar que isso aconteça, é preciso que esse poder seja compartilhado com os trabalhadores.
A Copa de 2014 vem para o Brasil e para a Bahia. O que há de positivo e o que há de negativo nisso?
Sinceramente, não vejo nada de bom do ponto de vista dos trabalhadores. Os custos da Copa devem ser repassados para os trabalhadores, mas dificilmente os benefícios o serão. As melhorias para a cidade (como o transporte público), no fim das contas, podem acabar sendo pensadas apenas para o período da Copa.
Se eu for eleito, vai ser diferente. Não permitiremos um esquema de segurança que penalize os trabalhadores negros e negras das periferias da cidade para beneficiar os burgueses estrangeiros que viessem assistir aos jogos da Copa. Os lucros com a Copa seriam em prol dos trabalhadores.
Ser político é vocação, profissão, está no sangue, ou é coisa que se aprende na escola da vida? Por que o senhor entrou na política?
Ser político não é só exercer cargo público. Todo ser humano é político. Em algum momento, você está exercendo a política – a arte da argumentação, do convencimento, a defesa de idéias etc. Eu, como professor, não tenho como negar que sou político, né?
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