ACM Neto: o que as pesquisas não dizem, a realidade nos conta

No “reino” do prefeito “Netinho” Salvador é vendida como a cidade do turismo, como diz o ditado popular, pra “inglês vêr”

Governador Rui Costa (PT): caviar para a classe média e os turistas, lata de sardinha para os trabalhadores

O governador do PT declara que é preciso criar linhas especiais para atender um setor da classe média que não se sente atraída pelo transporte coletivo de Salvador.

segunda-feira, 30 de março de 2015

Ser contra o impeachment não significa defender o governo Dilma / PT:



André Freire.

de Salvador.

No último dia 20 de março, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), aconteceu um importante Debate sobre a Conjuntura Nacional brasileira, reunindo na mesa os professores Jorge Almeida (Psol), Daniel Romero (Ilaese e militante do PSTU), Armando Boito (Consuta Popular) e Luiz Filgueiras.
O tema principal da mesa acabou sendo a postura que a esquerda socialista deve ter diante da crise política aberta no Brasil e, principalmente, sobre qual posicionamento devemos ter frente ao Governo de Dilma e do PT.
A proposta de impeachment da atual presidente, que vem ganhando força desde as manifestações capitaneadas pela direita no dia 15 de março, é parte de uma manobra, ainda que de um setor minoritário da burguesia, para retirar Dilma e entregar o governo para um novo consórcio político, ainda mais conservador, formado principalmente por PMDB-PSDB.
Embora não deveria haver dúvidas entre nós que os governos de conciliação de classes do PT foram administrações que no essencial mantiveram o modelo de governar de acordo com os interesses das grandes empresas, os partidos que estiveram no poder durante os governos tucanos de FHC não têm nenhuma condição para se colocarem como uma alternativa de mudança em beneficio da maioria do povo.
Na verdade, quem pode (e deve) se organizar e se mobilizar para questionar esse governo traidor são os trabalhadores, a juventude e as entidades e movimentos sociais realmente combativas, que não tem nenhum laço com o governo do PT e também com a direita mais tradicional.
Por isso, ao contrário das direções do MST e da Consulta Popular, que enxergam na posição contrária ao impeachment uma forma de manter a sua defesa do projeto de governo do PT, nós temos que propor um caminho diferente, e em muitos sentidos, inclusive oposto a este.
Ao estarmos contra o impeachment e as manobras de Aécio, Eduardo Cunha, Renan e cia, reforçamos também a nossa posição de oposição de esquerda ao Governo Dilma e ao seu sinistro ajuste fiscal. A única forma de realmente lutarmos contra a possibilidade da direita captalizar a crise do governo do PT é colocarmos a classe trabalhadora em ação, contra a corrupção, o ajuste fiscal e demais ataques do Governo e dos patrões.
Usar a posição contrária ao impeachment para, de fato, defender esse governo, só serve para ajudar o PT a encobrir o fracasso de seu projeto de conciliação de classes e, ainda por cima, facilita o trabalho da direita, que quer ocupar todo o espaço de oposição deixado pelo esgotamento do governo do PT.
Portanto, mais do que nunca é necessária uma ampla unidade ação entre todos que querem derrotar o ajuste fiscal do governo. Uma boa oportunidade para desenvolver essa possibilidade será a jornada nacional de mobilizações do funcionalismo público, nos dias 7, 8 e 9 de abril.
Estas ações unificadas do movimento são muito importantes, inclusive para ampliar ainda mais a nossa luta rumo à possibilidade de convocação de uma verdadeira greve geral, que enterre de vez a atual politica econômica de privatizações, tarifaços, inflação e garantia dos lucros exorbitantes para os bancos, as empreiteiras, o agronegócio, enfim, os grandes empresários. 
É hora também de unir a CSP Conlutas, o Espaço de Unidade de Ação, o MTST, a Feraesp, e também os partidos de oposição de esquerda - PSTU, o PSOL e o PCB - em uma frente única pra lutar, que fortaleça um terceiro campo, realmente dos trabalhadores e da esquerda socialista, uma alternativa tanto ao fracasso do Governo Dilma e do PT como também a direita tradicional.
Com a firmeza dessas ideias e muita disposição para unificar todos que querem lutar em defesa dos interesses dos trabalhadores vamos conseguir influenciar politicamente nos desfechos da enorme crise politica que se abriu em nosso país em 2015.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Declaração do Direção Estadual do PSTU/BA sobre a participação do PSOL/BA no ato governista


PSOL da Bahia se soma ao ato em defesa do governo Dilma

Nem marchar com a direita, nem dar as mãos ao governo. Precisamos construir um campo de classe independente

Nos últimos dias temos vivenciado um quadro de agravamento da crise política do país. Essa crise é alimentada pela profunda crise econômica internacional que afeta o Brasil fazendo com que os setores dominantes se questionem sobre em qual saída devem apostar para continuar lançando nas costas dos trabalhadores os custos da crise. Desde o ano passado há uma divisão crescente na burguesia brasileira colocando de um lado os que apoiam a manutenção do governo petista da Dilma, do outro os que compraram o projeto da oposição tucana que oferece como saída o impeachment e a conformação de um governo de aliança com o PMDB.

Antes de tudo, e deixando de lado os discursos mais apaixonados que fecham os olhos pra realidade, uma análise objetiva do último ano coloca o governo Dilma e a oposição de direita lado a lado no que diz respeito a defesa dos interesses dos ricos. Estiveram juntos no ataque ao seguro desemprego e as pensões, juntos também estiveram na defesa da PL 4330 da terceirização e, mais recentemente, na entrega do pré-sal e na aprovação da lei anti-terrorismo que já ficou conhecida como a lei anti movimentos sociais por conta de seu caráter criminalizante. Diante da escalada exponencial do desemprego a presidenta Dilma poderia ter aprovado uma medida provisória que protegesse os trabalhadores das demissões mas, preferiu zelar pelo seu compromisso com as montadoras e demais multinacionais deixando trabalhadores entregues a própria sorte. Portanto, não estamos diante de um enfrentamento entre um campo progressivo que defende os trabalhadores e o campo dos patrões. Por isso dizemos se tratar de uma falsa polarização, falsa porque o PSDB e, lamentavelmente, o PT estão em luta pra saber quem vai, estando no poder, seguir aplicando a agenda de ataques aos direitos dos trabalhadores que tanto necessitam os patrões.

Nessa disputa a oposição de direita se colocou na ofensiva cavalgando a onda de indignação por conta dos escândalos de corrupção. A cada momento a operação “Lava-jato” -a mesma que colocou na cadeia donos e executivos das mais importantes empreiteiras do país - tem revelado seu caráter tendencioso e seletivo destacadamente pelo papel do juiz Sérgio Moro que usa de dois pesos e duas medidas engavetando denúncias contra líderes da oposição e publicizando, com apoio da imprensa, os fatos que envolvem os líderes petistas, em especial o ex-presidente Lula. Nós do PSTU não temos nenhuma confiança na justiça dos ricos e seus agentes como Sérgio Moro. Repudiamos a corrupção e temos a certeza de que ela não é patrimônio exclusivo do PT, muito pelo contrário, a oposição de direita esta envolvida até o pescoço. Aécio, Cunha, Temer, Renan, a maioria dos deputados que conformam a comissão do impeachment, os partidos da base aliada do PT e os da oposição de direita, todos sem exceção foram financiados pelas empresas investigadas na lava-jato. Por isso somos contra o impeachment, pois trocar Dilma por Temer não mudará esse quadro. Defendemos o fora todos eles! Por novas eleições gerais sem financiamento privado onde os envolvidos na lava-jato não possam concorrer.

Mas defendemos também que nossa classe deve tomar as ruas e combater ativamente essa falsa polarização. Não fomos a marcha verde-amarela do dia 13 convocada, promovida e financiada pela oposição de direita, por setores patronais como a FIESP, e por movimentos de direita como o Movimento Brasil Livre. Nessas marchas domingueiras não há espaço para as reivindicações de nós trabalhadores, em especial do povo das periferias do Brasil de maioria negra. Por outro lado, acreditamos também que os atos convocados pelo governo representam uma armadilha perigosa para classe trabalhadora. Inflamados por um discurso que estimula o medo do “GOLPE” , os setores do governo convocaram o dia 18 e preparam o 31/03 como atos em defesa da democracia. Na verdade, igualam democracia a uma defesa adesista do governo sem espaço para críticas.

Por isso, julgamos necessária fazermos uma crítica pública e fraterna aos companheiros e companheiras do PSOL da Bahia. A direção desse partido adotou a posição de participar desses atos e construí-los na base convocando sua militância e os movimentos onde atuam. Achamos isso um grave erro. A direção do PSOL da Bahia negligencia a experiência de 2015 onde outros atos com o mesmo caráter foram convocados e insiste em dizer que os atos não são em defesa do governo e é possível disputar o seu caráter. Nada mais falso, os atos convocados pelo governo para hoje e o dia 31, que se dizem em defesa da democracia, não estão abertos a diferenças.

Nesses atos não será possível denunciar a oposição de direita e ao mesmo tempo ter as mãos livres para criticar as medidas do governo. Nesses atos não será possível denunciar a seletividade crescente na condução da operação da Lava-jato por parte do juiz Moro e ao mesmo tempo ter as mãos livres pra falar que todos os corruptos devem ser presos, tanto os da oposição de direita como Aécio e Cunha, quanto as lideranças governistas. E tão pouco poderemos falar nesses atos que a saída pra nossa classe não passa por depositar confianças e muito menos fortalecer o governo Dilma. Perguntamos a direção estadual do PSOL: O que farão nesse ato senão dar as mãos ao governo, aderir ao seu discurso e dizer para a nossa classe que é preciso defendê-lo?

Ainda sobre a bandeira da democracia, vemos como bastante conveniente a forma como os setores ligados ao governo a defendem. Uma vez mais, perguntamos a direção do PSOL Bahia: Irão marchar pela democracia e a favor do governo Dilma ao lado de Rui Costa, o mesmo que parabenizou os PM's “artilheiros” da chacina do Cabula? Onde estava a democracia no caso desses jovens e de tantos outros jovens negros mortos por causa da manutenção por parte do PT dessa política de segurança pública racista? Que democracia é essa que devemos defender ao lado do governo que aprovou a lei anti-terrorismo? Que democracia é essa que devemos defender ao lado do governo que implementa o ajuste fiscal e criminaliza as greves que se colocam como forma de resistência as suas consequências?

Reivindicamos que nesse momento difícil e complexo precisamos mais do que nunca arregaçar as mangas e construir um campo de classe independente do governo, da direita e dos patrões. Não se trata de uma tarefa fácil, mas podemos construí-la apoiada nos exemplos de resistência espalhados nas lutas que ocorrem por todo o país. Precisamos articular essas lutas, coordená-las, fortalecê-las rumo a uma greve geral contra o ajuste fiscal, contra as demissões, contra o governo do PT e a oposição de direita. Encarar essa tarefa é urgente. A direção do PSOL ao optar pelo caminho mais fácil da adesão aos atos pró-governo, contribui para tornar mais difícil uma saída independente da nossa classe.
Nós do PSTU não temos a ilusão de que construiremos essa alternativa independente sozinhos. O universo das lutadoras e lutadores que rechaçam a direita e já não se encontram no campo do governo é, felizmente, mais amplo que nós e que o PSOL. Ele cresce a cada greve que resiste contra as demissões nas fábricas, cresce a cada luta do funcionalismo público contra o desmonte que o setor vem sofrendo, cresce nas lutas estudantis, cresce nas periferias lutando por direito a cidade e resistindo a criminalização e extermínio da juventude negra. É nesse processo real de lutas de resistência que devemos buscar nossos aliados, não no governo que tantas facas nos cravou nas costas.

Chamamos os companheiros e companheiras a reverem sua posição.Reivindicamos como exemplar a posição pública tomada pelo mandato de Hilton Coelho do PSOL, na qual defende “resistir com o povo por uma saída pela esquerda” e consequente com isso rejeita a ideia de dar aos mãos ao governo nos atos de hoje e do dia 31/03. Estamos de acordo Hilton nesse ponto, a única saída que temos é pela esquerda e esta deverá ser construída na luta. Uma luta independente que enfrente a direita e rompa definitivamente todos os laços com o governo do PT que traiu os trabalhadores. Uma luta que ganhe os trabalhadores e trabalhadoras para confiarem em suas próprias forças, acreditarem que são capazes de derrotar o ajuste fiscal, parar as demissões e nesse caminho derrotar também os planos do governo e da direita. Defendemos uma greve geral que sirva como uma saída da classe trabalhadora para essa crise. Defendemos o dia 01 de abril, data definida como um dia de atos e paralisações pelo Espaço de Unidade de ação que reúne a CSP-Conlutas e demais entidades e movimentos do campo classista combativo, como um momento a serviço da construção dessa via independente.

É hora de romper os laços com a experiência de conciliação, alianças e acordos com a direita promovida pelo PT. O momento exige que a esquerda seja capaz de se apresentar de forma independente e classista, como alternativa para uma mudança real para nossa classe.

Direção Estadual do PSTU/BA
Salvador, 18 de março de 2016

quinta-feira, 12 de março de 2015

Contra os ataques dos governos e patrões, lutar é preciso!

 
 
                                                                                           
                                                                    
 
Renata Mallet, ex-candidata ao governo da Bahia.
Presidente do Diretório municipal do PSTU em Salvador.
 
Nos últimos dias tem crescido a expectativa em torno aos atos programados para os dias 13 e 15 de março. Acho mais do que justo o grande interesse que existe entre os trabalhadores nessa questão afinal, com a presente conjuntura política e econômica do Brasil é natural que se busque saídas que possam transformar em ação a indignação com o atual estado das coisas.
 O 2015 REAL tem sido muito diferente do 2015 de “faz de conta” que as ditas candidaturas “majoritárias” prometeram nas eleições de 2014. Desde os primeiros dias de janeiro as medidas implementadas pelos governos em escala federal, estadual e municipal seguiram um único sentido: Colocar na conta dos trabalhadores os efeitos da crise econômica que atinge o Brasil.
Brotaram por todos os lados aumentos (luz, água, alimentos, gasolina) e temos vivido nesses três primeiros meses de 2015 um verdadeiro tarifaço. Não satisfeitos com isso, governos e patrões querem pôr as suas mãos sujas nos nossos direitos trabalhistas além de nos ameaçar com demissões como no caso da Volks e GM em São Paulo.
    
 
                                                                                                               

Dilma, que disse que não mexeria nos direitos trabalhistas nem que a vaca tossisse, agora promove um duro ataque com as MP’s 664 e 665 que golpeiam o seguro desemprego e o direito a pensão. No último domingo em seu programa de TV defendeu o ajuste fiscal e pediu paciência aos trabalhadores. O governo do PT quer que nós trabalhadores “apertemos nossos cintos” e aceitemos os ataques as nossas condições de vida para que os grandes empresários mantenham intactas suas fortunas. Com toda razão os milhões de trabalhadores que votaram na Dilma agora se sentem traídos pois, o programa que a presidente aplica segue a mesma cartilha neoliberal do tucano Aécio Neves.
Justamente por isso engana-se quem pensa que com Aécio seria diferente. O governo de Alckmin em São Paulo é um exemplo vivo de que um mandato tucano de nada poderia servir para os trabalhadores. Conhecemos o histórico de privatizações e ataques do PSDB, sabemos quais setores da sociedade eles defendem, me parece mais do que justo não depositar um único centavo de confiança neste partido. A escandalosa rede de corrupção que veio a tona com a operação lava-jato por exemplo, se iniciou na era FHC que no comando da presidência deu pontapé inicial na privatização da Petrobrás. O PT de Dilma e Lula ao invés de combater essa prática deu continuidade a farra das empreiteiras se atolando na mesma lama podre da corrupção.
O PSDB e a direita tradicional brasileira não são nossos aliados. Pelo contrário, seus interesses são os mesmos dos patrões e o seu programa para crise econômica também vai no sentido do ajuste fiscal e da caça de direitos trabalhistas. Por estarem na oposição tentam de modo oportunista capitalizar o desgaste do governo e indiretamente dão corda as campanhas pelo impeachment de Dilma nas redes sociais, além de terem declarado apoio aos atos marcados para o dia 15.
O desejo dos trabalhadores por lutar contra os ataques dos governos, em especial contra as MP’s e o ajuste fiscal impostos por Dilma, é algo de muito progressivo e deve ser potencializado. Mas essa luta deve ser feita com nossas próprias armas. O impeachment é uma saída que coloca a tarefa de derrotar o governo nas mãos do Congresso, o mesmo Congresso atolado na corrupção da Lava-jato. Além do mais, na hipótese do impeachment ser levado a cabo quem assumiria o governo seria Temer e o PMDB. O partido de Renan e Eduardo Cunha indiciados no escândalo da Petrobrás.
As medidas e o plano econômico do governo deve ser derrotado pela classe trabalhadora em luta. Com atos de rua, greves e muita mobilização pela base. Os métodos de luta, as bandeiras e as necessidades dos trabalhadores são bem diferentes da turma que fez “panelaço” nas varandas dos condomínios de luxo no domingo passado. Tão pouco devemos fazer coro as vozes que clamam pelo retorno dos militares. As forças armadas promoveram durante os 20 anos do regime militar uma coleção de atrocidades contra o povo e a classe trabalhadora. Por isso defendo que é um erro participar do dia 15.
Por outro lado, no dia 13, diversas Centrais sindicais e organizações políticas promoverão ações que vão no sentido de evitar que o desgaste gerado pelos ataques abale ainda mais a base social do governo no interior do movimento de massas. No momento onde os trabalhadores sentem a necessidade de lutar para defender seus empregos, seus direitos, melhores condições de vida, essas Centrais tentam mais uma vez nos convencer que o mesmo governo que promove os ataques pode ser um aliado dos trabalhadores.
Se Dilma e o PT são aliados por que ao invés das medidas provisórias que atacam o seguro desemprego Dilma não editou uma medida provisória que proibisse as demissões em massa? Por que ao invés de cortar 7 bilhões de reais da educação Dilma não suspendeu o pagamento da dívida aos banqueiros que consome 40% do orçamento da União?
Se o dia 15 é um erro porque os trabalhadores não podem confundir suas bandeiras com a da direita e tão pouco ver  Aécio e o PSDB como aliados, o que fortaleceria a alternativa burguesa para crise, também não é possível sairmos vitoriosos de uma luta quando não se tem clareza de quem é o inimigo. Nesse momento é o governo Dilma quem está promovendo duros ataques, portanto a luta contra esses ataques exige que estejamos num campo independente do governo. As organizações que promovem o dia 13(CUT, UNE, MST, CTB, Consulta Popular) cometem um grave erro ao tentar conciliar a necessária luta contra os ataques do governo ao apoio que insistem em depositar no governo Dilma.
 
Reivindico como importante a iniciativa da CSP-Conlutas e uma série de sindicatos e organizações que realizaram no último dia 06 um dia nacional de atos e paralisações. A única certeza que os trabalhadores devem ter nesse momento é a necessidade de lutar. Para isso cabe aos movimentos sociais se organizarem de modo independente da direita e do governo em prol de um calendário de mobilização com atos, paralisações, greves, debates, tendo como alvo a luta contra o ajuste fiscal, a revogação das MP’s e a defesa dos empregos. Não devemos medir esforços pra defender nossos direitos, porque não articular um calendário de mobilização onde a realização de uma greve geral seja parte? A experiência da GM de São José dos Campos onde a greve fez a empresa recuar das demissões ou, a greve da educação do Paraná com ocupação do prédio da Assembleia Legislativa são exemplos valiosos.

 
As organizações que promovem o dia 13 também serão chamadas a esse compromisso. É chegada a hora de tomarem uma decisão. Vão continuar agindo como bombeiros do governo ou, vão colocar toda sua energia a serviço da luta num campo classista e independente contra os ataques do governo e ameaça de crescimento da alternativa da direita?
 Sigo acreditando que apenas trilhando um caminho á esquerda dos governos e patrões poderemos defender verdadeiramente os interesses da classe trabalhadora. A experiência petista de governar em aliança com os patrões está ruindo diante de nossos olhos e a melhor maneira de evitar o crescimento da direita é construindo um campo independente dos trabalhadores. Pra não deixar que o peso da crise caia nos nossos ombros precisamos de um governo dos trabalhadores sem patrões, que garanta o pleno emprego, que suspenda o pagamento da dívida “eterna” e coloque os recursos do país a serviço do povo.

sexta-feira, 6 de março de 2015

A contraditória máquina da produção cultural e os desafios da secretaria de cultura na Bahia


 

Thame Ferreira, 

Escritora, atriz e estudante de Bacharelado Interdisciplinar em Artes na UFBA.

 
 

Os premiados do Oscar 2015 mal terminaram de comemorar e os olhos do mercado já estão voltados para as próximas grandes produções: Essa é a velocidade da arte-mercado, da produção em massa para o lucro de grandes corporações, da arte mainstream dirigida pela economia capitalista. Portanto, já-já nem mais nos lembraremos que esse prêmio elitizado, baseado no gosto de um setor de intelectuais, produtores e grandes corporativistas teve uma característica peculiar e que deve ser utilizada para incitar reflexões: A maior aparição de setores oprimidos como negros, mulheres, LGBTs e imigrantes. Não que isso signifique que essa premiação vem se tornando mais democrática. Mas esse cenário por si só carrega como significado simbólico a necessidade objetiva da democratização da arte. Há um panorama de contradições que vem tornando latente e necessário o debate do acesso e da produção artística.

As redes sociais ficaram cheias de comentários sobre a noite, em geral felizes pelas expressões contra o machismo, racismo e homofobia. Uma porção de ativistas da luta contra opressão se incomodaram com a repercussão dessas ações isoladas. Certo, apesar de parecer hipocrisia vindo de um espaço tão injustos e privilegiado, de fundo, demonstra que existem questões que não podem mais passar despercebidas. Então aí não há porque se incomodar. O local onde nosso incomodo deve residir não deve ser no "falarem de lá", mas sim, o sistemático silêncio sobre aqui. O silêncio diante de fatos que são determinantes para o cotidiano da arte e cultura baiana como a nomeação do novo secretário de cultura, Jorge Portugal ou a possibilidade do fechamento do circuito de cinema Saladearte em Salvador.
Não é a primeira vez que uma sala de arte fecha por falta de patrocínio. Em 2006 a que existia no clube baiano foi fechada. Essa cena repetiu um padrão típico de Salvador, quando um espaço de cultura é fechado para dar lugar ao comércio, outro exemplo aconteceu com o Teatro Maria Bethânia e o Cine Rio Vermelho. Seguindo essa triste tradição, recentemente foi anunciado o fechamento da sala no Museu Geológico. Esse circuito já teve oito salas, mas restarão agora apenas dois espaços, o Cine Vivo (shopping Paseo Itaigara) e o Cinema da Ufba, na Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (Vale do Canela). Ambos com crise financeira e na iminência de fechar.  Estamos tratando de um espaço que há 15 anos ainda permitia, dentro das limitações, a exibição dos filmes fora do circuito oficial e excludente de cinema. A pergunta que grita é, até quando?
 
Falar agora da secretaria de cultura e das perspectivas para o próximo período é um passo automático: Uma gestão de cultura precisa pensar centralmente para quem e para quê o estado deve priorizar os investimentos. Estamos num momento de contingenciamento de verbas, de cortes em diversos setores feitos pelo governador Rui Costa, e de uma secretaria que aos olhos de muitos parece "artigo de luxo". Isso porque a hipocrisia das elites funciona assim: Apesar do acesso à arte e da possibilidade de construção de eventos culturais serem algo orgânico para ela, para a vida da juventude e trabalhadores esse direito ainda é tratado como algo que não é vital, mas supérfluo. Fato é que em um país como nosso, em que o acesso a bens como a educação, saúde, transporte tornam-se cada vez mais precários, e só avançam a partir da luta direta, do engajamento, a cultura e os profissionais da área precisam se compreender como parte desse pacote básico arrancado por combate das mãos dos governantes. A classe trabalhadora e sua juventude devem ter direito ao pão e também a poesia, e para isso, o primeiro passo é compreender a poesia também como vital.
Nesse cenário, pensar uma secretaria de cultura ativa é pensar uma secretaria que se integre com a questão do transporte público. O passe livre é uma pauta latente e mobilizadora no Brasil, pois esse direito é tratado como um serviço de pior qualidade. E que na prática, serve exclusivamente para pegar o estudante e trabalhador em casa, levá-los pro trabalho, e vice-versa. Colocar em prática a democratização da arte como lazer é garantir transporte e segurança em horários alternativos e não comerciais, para que seja possível a ida a um cinema, show, teatro sem a preocupação de não ter como voltar para casa. Acesso a cultura e arte é, portanto, também segurança pública. E não essa política de genocídio da juventude negra da periferia, um dos setores mais artísticos e culturais da nossa cidade. Logo, quando os governos e prefeituras investem nessa lógica de segurança, que mata jovens, está cotidianamente assassinando nossa cultura.
É preciso repensar as prioridades das gestões. É preciso questionar esse modo de gerir cultura que transfere para a esfera privada a maior parte de injeção de investimentos. Ou seja, quem regula a arte é um mercado ditado pela economia capitalista. Logo, que tipo de acesso poderíamos esperar desse setor que tem como mola propulsora o lucro? O Estado precisa tomar pra si a responsabilidade de investir em arte e cultura através do seu orçamento, a partir da riqueza produzida pelo povo. Porque as elites não precisam do Estado para isso, elas são consumidoras de arte e ainda vomitam a falsa ideologia de que o povo é incapaz de compreendê-la. Que o povo é insensível aos saberes artísticos e eruditos, ou pior (e muito comum, inclusive nas universidades) que o povo não tem cultura! Pois digo que quem é insensível é o Estado, são os governos e se também silenciam, os gestores. Sim, pois em vez de se tornarem ponta de lança ao propor uma reestruturação da lógica de como é tratada a arte e cultura pelo Estado e de como elas se correlacionam com todos os aspectos da vida da população, seguem reproduzindo a lógica da mercantilização desses bens básicos.
Certamente um leitor envolvido na área deve estar pensando, mas e a política de edital, não representa um avanço? Bom, por mais que ela acabe, na teoria e aparência, com as indicações, na prática e essência segue reproduzindo esse modus operandi: A necessidade de subsídios privados; a presença de nomes de peso no elenco ou produção; a seleção marcada pela definição de temas ou julgamento da qualidade de obras e por aí vai. Quem julga? O Estado? Gestores? Uma comissão composta por quem? – Certamente não pelo povo. Há uma confusão tremenda nisso tudo! Uma turbidez na compreensão do papel do Estado; que não é definir ou escolher o que é arte, o que é cultura,  e quem vai ter investimento para concretizar projetos; mas permitir que o povo viva essa parte essencial da vida humana, a partir de investimentos diretos e permanentes do orçamento, principalmente nos espaços públicos e periferias. Assim, garantindo que os trabalhadores e a juventude possam exercer esse direito livremente, sem meritocracia ou filtros e censuras disfarçadas de competência profissional.
Diferentemente do que afirmou na posse e da opinião do antigo secretário Albino, o principal problema da Secretaria não é a limitação de recursos financeiros e humanos. Sem dúvidas isso também é parte da dificuldade, à medida que menos de 1% foi investido do total do estado. Mas o desafio do novo Secretário da Cultura Jorge Portugal é muito mais profundo. Isto é, pensar a cultura e a arte em Salvador como um bem universal, um direito imaterial e não uma mercadoria a ser barganhada entre o poder público e empresas em detrimento dos interesses da população. E dentro desse bojo pensar como os profissionais da arte e cultura devem ser valorizados, afinal são trabalhadores que estão vendendo sua força de trabalho e precisam sobreviver. Mas o que se pode esperar de um "educador" que furou a greve histórica dos professores do estado por melhores condições de trabalho e estrutura da educação básica baiana em favor do seu próprio bolso? Jorge Portugal ganhou cerca de um milhão com o cursinho subsidiado pelo Governo Wagner (PT) para desmoralizar e enfraquecer a greve da categoria em 2012.
 
Não podemos prever o futuro, apesar dos esotéricos tentarem. Mesmo quem não tem um pé no esoterismo pode arriscar um palpite, pois sim, é fácil duvidar de um secretário com esse histórico. E mais, que em seu discurso de posse estava mais preocupado em poetizar do que falar de forma objetiva o que pretende com a gestão. Apreciar literatura e poesia em nada tem relação com um secretário se utilizar da posição de destaque de um cargo para autopromoção artística (como muitos usam). Se na greve ele pensou apenas no seu bolso como será sendo gestor?  Sua gestão deveria estar a serviço de uma mudança de paradigmas no investimento e acesso a arte e cultura na Bahia, mas nossas expectativas sobre sua gestão não deve alimentar ilusões.
 Citando os educadores e artistas Maria Elisa Cevasco e Ademar Bogo, nessa conjuntura, a crítica cultural pode ser um eficiente instrumento de descrição do funcionamento da sociedade; e a cultura possibilita e engendra a arte, que é o seu estado supremo e soberano. Portanto, que nós artistas cada vez estejamos mais atentos e ativos, pois somos parte da mudança necessária. Como diria um grande ator Diego Alcantara: Que os artistas voltem a ser perigosos! Que fiquemos de olho no cenário artístico e cultural na Bahia, pensemos formas de manter espaços como o circuito Saladearte e pressionemos constantemente Jorge Portugal, Rui Costa e ACM Neto, sendo sujeitos críticos e ativos no processo de democratização da arte e valorização da cultura baiana. Nossos anseios não irão brotar de um chão sem que as sementes sejam cultivadas, afinal, essa é a raiz do significado de cultura, do latim colere; cultivar.  Portanto, que cultivemos!