ACM Neto: o que as pesquisas não dizem, a realidade nos conta

No “reino” do prefeito “Netinho” Salvador é vendida como a cidade do turismo, como diz o ditado popular, pra “inglês vêr”

Governador Rui Costa (PT): caviar para a classe média e os turistas, lata de sardinha para os trabalhadores

O governador do PT declara que é preciso criar linhas especiais para atender um setor da classe média que não se sente atraída pelo transporte coletivo de Salvador.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Só discurso não basta. Sobre a possível indicação de Katia Abreu para o Ministério da agricultura.


Gabriela Mota,
Juventude do PSTU/Bahia.




Já se passou  um mês das eleições presidenciais mais polarizadas desde 1989. A vitória apertada do governo Dilma/PT anuncia um cenário de maior polarização e enfrentamentos políticos no próximo período. O cenário econômico é cada vez mais instável. O FMI e o “mercado financeiro” já apresentaram ao governo suas pautas econômicas: ajuste fiscal e corte nos gastos sociais. Essa será a tônica do próximo período. O governo Dilma já está dando claros sinais de que lado vai estar. Nessas eleições o povo queria mudanças para melhor, no entanto o governo vem dando demonstrações de que a politica econômica vai seguir a mesma, o que significa menos dinheiro para saúde, educação, reforma agraria etc. Alguns analistas já preveem um corte de 100 bilhões de reais do orçamento. Novamente os milhões de trabalhadores que votaram no PT para evitar a volta da direita não terão suas reivindicações atendidas.

Para onde vai o governo DILMA?
A tão propagada guinada à esquerda do governo não saiu do papel, como imaginavam algumas correntes politicas, como a CONSULTA POPULAR e o MST. Terminada as eleições o governo tem feito demonstrações claras do que será o segundo mandato da Dilma. As primeiras medidas do governo vão no sentido contrário ao que esperavam os trabalhadores, a juventude e os movimentos sociais. A provável indicação de representantes dos banqueiros e do agronegócio nos ministérios da fazenda e da agricultura foi um grande balde de água fria naqueles setores que acreditavam em uma possível guinada à esquerda governo.
Os escândalos de corrupção na PETROBRAS, o aumento do preço da gasolina e as possíveis nomeações de Joaquim Lewy para o ministério da Fazenda e de Katia Abreu a pasta da Agricultura, ambos representantes do grande capital financeiro e do agronegócio, demonstram o que esperar do próximo governo Dilma. A decepção em alguns setores da sociedade já é visível.

Tudo para o agronegócio, migalhas para reforma agraria!
 São sintomáticas as declarações do colunista da Veja, Ricardo Azevedo, um claro representante da direita reacionária no Brasil, onde faz elogios ao governo Dilma pela indicação da senadora e representante do agronegócio, Katia Abreu. Para Azevedo “na área do agronegócio, propriamente o governo se comportou bem”. A indicação de Katia Abreu provocou a ira e a indignação dos movimentos sociais, em particular do MST e sectores do PT. Nessa semana cerca de 2000 jovens ligados ao MST ocuparam uma fazenda que cultiva milho transgênico com o objetivo de “denunciar o modelo do agronegócio, defendido amplamente pela bancada ruralista, e que tem a senadora Katia Abreu como referencia politica” (Nota no site do MST “Juventude ocupa fazenda de milho transgênico no Rio Grande do Sul”, 22 de novembro de 2014.).
É justa a indignação e o rechaço contra a indicação de Katia Abreu, no entanto é necessário ir além.  Não basta apenas questionar uma figura, mas o conjunto da politica econômica que os governos Lula e Dilma vêm aplicando no país desde 2003. Lamentavelmente o governo fez sua opção de governar com os setores mais reacionários e retrógrados da politica brasileira, como Collor, Sarney, Katia Abreu etc. O próprio Lula havia indicado o presidente do Bank Of Boston, Henrique Meireles, para assumir o Banco Central e o representante do agronegócio, Roberto Rodriguez para assumir o ministério da agricultura. Os banqueiros, o agronegócio e as construtoras foram os maiores beneficiários dos 12 anos de governo do PT. Enquanto isso, a tão esperada reforma agraria não saiu do papel e Dilma vai entrar para historia como um dos governos que menos assentou famílias.

Dilma, Cadê a Reforma agraria?
O membro da coordenação nacional do MST, Alexandre Conceição, denunciou que “o governo Dilma foi o pior para reforma agraria. Assentou pouco, ou quase nada, e foi tomado pelo agronegócio, a quem se aliou” (MST diz que governo Dilma foi o pior para reforma Agraria, O GLOBO, 04/02/2014). Existem aproximadamente 200 mil famílias acampadas nas beiras das estradas a espera de um pedaço de terra. Essa realidade contrasta com os inúmeros benefícios concedidos pelo governo aos latifundiários e ao agronegócio no país.

Não basta ser contra Katia Abreu! É preciso retomar o caminho da luta pela reforma agraria.
O recente manifesto assinado por intelectuais e organizações politicas (o MST, a Consulta Popular/Levante Popular da Juventude e membros do PT) denuncia que “os rumores de indicação de Joaquim Levy e Kátia Abreu para o Ministério sinalizam uma regressão da agenda vitoriosa nas urnas. Ambos são conhecidos pela solução conservadora e excludente do problema fiscal e pela defesa sistemática dos latifundiários contra o meio ambiente e os direitos de trabalhadores e comunidades indígenas”.
No entanto é preciso ser consequentes na critica e no enfrentamento. Não podemos gerar ilusões e amarrar o conjunto dos movimentos sociais ao governo com o discurso de que estamos frente a um governo em disputa. A opção do governo e do PT é muito clara. Por isso não basta apenas ser contra a indicação de Katia Abreu. Esse é apenas o primeiro passo, é preciso que a esquerda socialista, os movimentos sociais, a juventude construa uma grande campanha nacional de denuncia da politica econômica do governo que beneficia os banqueiros e o agronegócio. Para ser consequentes é preciso que as direções do MST e da Consulta Popular rompam com o governo Dilma e retomem o caminho da luta e da mobilização direta, como fizeram outrora contra os governos do PSDB. Infelizmente não é isso o que veem demonstrado as direções dessas organizações. Se o governo mantiver essas indicações, qual será a postura do MST e da Consulta Popular?

 Com a palavra os companheiros e companheiras do MST e da Consulta Popular. 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Governador Rui Costa (PT): caviar para a classe média e os turistas, lata de sardinha para os trabalhadores

|Por Jean Montezuma, presidente do PSTU/BA

Terça-feira, 17 de novembro ás 7 horas da manhã. Uma equipe de TV local está fazendo uma reportagem ao vivo para um telejornal em frente a Arena Fonte Nova. De repente, ao fundo, se inicia uma correria que logo chama a atenção da equipe de reportagem. Um princípio de incêndio num ônibus fez com que os passageiros saíssem as pressas em pânico por causa da fumaça. O ônibus pra variar estava lotado e no meio da correria uma das passageiras caiu, se machucou e precisou aguardar atendimento médico. Felizmente nada de mais grave, apenas ferimentos leves.

Essa cena, transmitida ao vivo para milhares de famílias em todo o Estado, foi uma amostra do péssimo serviço de transporte oferecido a população de Salvador, situação que não é diferente nas cidades do interior do Estado. A rotina de quem depende do transporte coletivo em Salvador é marcada por ônibus lotados, atrasos, filas enormes nas estações, linhas que dão a volta ao mundo tornando os trajetos mais longos do que poderiam ser e um longo etc. Um verdadeiro retrato de descaso, desrespeito e precarização. Para completar, o valor da passagem R$3,00, faz da nossa tarifa a mais cara do norte-nordeste e uma das maiores do Brasil.

Mais os governantes parecem não se importar com isso não é mesmo? Se por um lado o prefeito ACM Neto renovou o controle da corja gananciosa do SETEPS (sindicato das empresas de ônibus) sobre o sistema de transporte por mais 25 anos, com direito ao “prêmio” do reajuste anual da tarifa, isso mesmo, a tarifa vai subir todos os anos se depender do prefeito e dos empresários!Já na semana passada foi a vez do governador Rui Costa mostrar que não tem nem aí para o sufoco que passam os trabalhadores.

Como podem ver nesse vídeo, o governador do PT declara que é preciso criar linhas especiais para atender um setor da classe média que não se sente atraída pelo transporte coletivo. Linhas especiais que circulem na região de bairros considerados nobres como Pituba, Corredor da Vitória e Graça, e também no chamado circuito turístico de Salvador. Mais direto que isso impossível! O governador, reconhecendo que o serviço oferecido pelo SETEPS é de péssima qualidade, sugere uma alternativa que só agravará a segregação. Numa cidade que já é tão desigual o governador aponta como saída ônibus especiais para a classe média, enquanto os trabalhadores, o povão, que continuem entregues ao descaso.


O governador petista se incomoda ao ver que moradores dos bairros nobres e os turistas tenham que utilizar dos ônibus quentes, barulhentos, desconfortáveis e lotados. Mas se esquece que essa é a realidade cotidiana da absoluta maioria da população. A lógica do raciocínio de Rui Costa é: “Caviar para classe média e os turistas, e lata de sardinha para os trabalhadores”. Seria cômico se não fosse trágico.

Nós do PSTU acreditamos que para que cenas como as que foram transmitidas ao vivo hoje na TV e o cotidiano de sufoco dentro dos ônibus tenham um fim, é preciso arrancar das mãos do SETPS o controle sobre os ônibus que servem a população. Os donos de empresa só pensam no dinheiro, não ligam para passageiros e tão pouco para os rodoviários. É preciso revogar a concessão feita ao SETEPS e abrir um diálogo amplo e democrático com os rodoviários, associações comunitárias, movimentos sociais e a população em prol da criação de uma empresa municipal de transportes. Esse é o caminho que interessa aos trabalhadores, lamentavelmente o governador petista segue um itinerário oposto.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Sobre o desaparecimento de Davi Fiúza.


Mais uma vez estou aqui redigindo linhas de um texto que não desejaria de modo algum escrever. Nos últimos dias tenho acompanhado atentamente pela imprensa o drama vivido pela família Fiúza. Davi Fiúza, um jovem negro de apenas 16 anos, está desaparecido há 17 dias. Segundo relato da família e dos moradores do bairro de São Cristóvão o garoto foi levado na porta de casa na manhã do dia 24/10 numa operação policial. Na operação em questão estavam envolvidas uma unidade da RONDESP, uma da PETO e dois carros sem identificação que levaram o jovem Davi sem nenhuma justificativa mesmo diante dos apelos dos moradores que presenciaram a cena.

É profunda a indignação que me causa o relato deste caso. Mais uma vez estamos diante de um triste exemplo do que falamos todos os dias e denunciamos durante as eleições. Existe uma prática institucionalizada de criminalização da pobreza e da juventude negra. De que outra forma poderíamos justificar a sensação de impunidade que permite que policiais sintam-se a vontade para sequestrar em plena luz do dia um jovem negro na porta de sua casa diante dos olhares e dos protestos dos moradores? E o pior! Mesmo após a denúncia feita pela família a Corregedoria da polícia militar nenhum avanço concreto se deu nas investigações deixando a família de Davi entregue à própria sorte.

 Não há como não se questionar: Ocorreria o mesmo se fosse Davi um garoto branco, ou se o seu endereço fosse o Alpha Ville e não a comunidade de Vila verde no bairro pobre de São Cristóvão? Não, não se trata de um caso pontual fruto da ação isolada de “maçãs podres” no interior da corporação. Este raciocínio limitado não explica as elevadas taxas de violência em nosso estado, não explica também porque a polícia baiana está entre as que mais mata no Brasil e não explica também porquê casos como o de Davi estão se tornando uma infeliz rotina que se abate sobre as famílias negras da periferia de Salvador e das maiores cidades da Bahia. É a própria estrutura militarizada de polícia que enxerga a população, particularmente a população negra, como inimiga e os jovens negros como potenciais criminosos, que alimenta a reprodução desses tipos de caso tão bárbaros.

As feridas do caso Geovane, outra vítima inocente da violência policial, ainda estão abertas.  Na verdade essa tem sido a rotina do povo negro na Bahia, um luto permanente, uma dor que mistura indignação, medo, revolta e ás vezes desespero. Mesmo sendo humildes e com poucos recursos financeiros a família Fiúza se uniu e no desejo de respostas agora oferece uma recompensa em dinheiro para quem der alguma pista sobre o paradeiro do jovem Davi.

Transmito a família Fiúza toda minha solidariedade. Como negro, nascido e criado na periferia convivo de perto com essa realidade que tanta dor causa ao povo negro. É inaceitável a nota oficial publicada pela Corregedoria da polícia onde identificamos que nenhum avanço concreto se deu nas investigações. A secretaria de segurança pública e o governador Jaques Wagner precisam se posicionar. Nós queremos respostas! Aonde está Davi?

Este caso só reforça a necessidade de seguirmos com a luta contra o extermínio da juventude negra na Bahia e também no Brasil. Infelizmente, em pleno “novembro negro” precisamos gritar em alto e bom som que o racismo segue presente na nossa sociedade oprimindo, humilhando e levando a morte negros e negras todos os dias. Já passou da hora de encarar a discussão sobre a estrutura policial no Brasil. Não é à toa que mais da metade da população brasileira não confia na polícia e, não é à toa que uma pesquisa recente demonstrou que até mesmo 70% dos policiais são favoráveis a desmilitarização da polícia.

 O governador eleito Rui Costa que defendeu durante sua campanha um aumento do aparato repressor com a criação de uma espécie de “BOPE” na Bahia precisa se posicionar. Qual será a postura do próximo governo? Investir em repressão e manter tudo como está, ou chamar os movimentos sociais, o movimento negro, e fazer o necessário debate sobre uma nova política de segurança pública?


Por fim, reafirmo minha solidariedade com a família Fiúza e compartilho o desejo para que esta situação seja solucionada.  A pergunta não pode ficar sem resposta: Comando da polícia, secretaria de segurança pública, governador Wagner, AONDE ESTÁ DAVI?

Carlos Nascimento,
ex-candidato a vice-governador pelo PSTU.