Como uma eleição pode salvar ou matar
milhões de pessoas
Guto Aragão – PSTU Alagoinhas
Nesse mês de março de 2015 o Oriente
Médio sofreu mais um duro golpe: o partido de extrema-direita Likud elegeu 30
cadeiras nas eleições parlamentares israelenses, obtendo à maioria e, portanto,
credenciando a manutenção do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu por mais 4
anos.
A vitória de
Netanyahu representa a continuidade dos ataques aos direitos dos árabes,
representantes de 20% da população israelense, e uma nova onda de ataques à Faixa de Gaza,
ultima zona de ocupação não-israelense no território Palestino.
O conflito: um resumo da ofensiva israelense
Para entendermos o
que a vitória do Likud representa, vamos inicialmente entender um pouco sobre o
que acontece no território Palestino atualmente.
No final do século
XIX, época de irrupções nacionalistas por todo mundo, surgiu na alta burguesia
européia o sionismo: um movimento político-filosófico que defendia a criação de
um Estado unicamente judeu nas terras onde supostamente
existiu um Reino chamado de “Eretz Israel”.
Israel desde sua
fundação constitui-se como um Estado racista, baseado em uma constituição
teocrática onde “a terra pertence aos judeus” e, portanto apenas aqueles de
descendência ou crença judaica. Tal constituição legitimou cinco décadas de
pilhagem e limpeza étnica, dizimando e expulsando os árabes de sua terra por
direito. David Ben Gurion, o primeiro-ministro Israelense, anos antes da
formação do Estado de Israel publicou a estratégia sionista:
“Quando nos tornarmos uma força com peso depois da formação do Estado,
aboliremos a partição [das terras] e nos expandiremos a toda Palestina. O
Estado será somente uma etapa na realização do sionismo, e sua tarefa é
preparar o terreno para nossa expansão. O Estado terá que preservar a ordem,
não com palavras, mas com metralhadoras.” [1]
E assim foi feito. Em
menos de um ano, entre 1947 e 1948, data da declaração de independência do
Estado de Israel, o exército sionista apoderou-se de 75% da Palestina,
expulsando do país setecentos e oitenta mil árabes e realizando uma carnificina
tamanha só comparada ao holocausto nazista.
Conseguimos perceber
que a realidade não mudou muito de lá para cá, visto que a chave do problema
está na natureza do Estado de Israel: um Estado teocrático, de um povo só,
baseado nas ideias sionistas e um enclave militar do imperialismo
estadunidense, que continua sua agressão aos Estados vizinhos, dominando
atualmente mais de 90% do território palestino.
Assim sendo, quem é
Benjamin Netanyahu, o Likud e o que eles representam?
Benjamin Netanyahu é um administrador por
formação, tendo estudado nos Estados Unidos por toda sua vida acadêmica, como a
maioria dos políticos da direita Israelense (coincidência?). Ganhou notoriedade
ao liderar a oposição no parlamento, denunciando rigorosamente os acordos de
paz entre Israel e a Organização para Libertação da Palestina.
Netanyahu ganhou amplo apoio dentro da direita
e extrema-direita Israelense, tornando-se chefe do partido Likud e nomeado
Primeiro-Ministro pela primeira vez em 1996 e novamente em 2009.
Em 2010, um membro do partido árabe “Movimento
Árabe para a Renovação” denunciou as práticas dos partidos de direita,
liderados pelo Likud:
“Enfrentamos a discriminação em todas as
áreas da vida. Os cidadãos árabes representam 20% da população, mas apenas 6%
dos empregados do setor público. Não há nenhum funcionário árabe no Banco Central
de Israel. Imagine se não houvesse nenhum cidadão negro empregado no banco
central dos Estados Unidos
Israel funciona com três sistemas de governo simultâneos. O primeiro é cheio de democracia em relação aos cidadãos judeus - etnocracia. O segundo é a discriminação racial em relação à minoria palestina - ao estilo das leis Jim Crow. E o terceiro é a ocupação dos territórios palestinos com um conjunto de leis para os palestinos e outro para os assentados judeus – apartheid.” [1]
Israel funciona com três sistemas de governo simultâneos. O primeiro é cheio de democracia em relação aos cidadãos judeus - etnocracia. O segundo é a discriminação racial em relação à minoria palestina - ao estilo das leis Jim Crow. E o terceiro é a ocupação dos territórios palestinos com um conjunto de leis para os palestinos e outro para os assentados judeus – apartheid.” [1]
O processo
eleitoral de 2015 e suas consequências
Alguns dias antes das eleições do dia 15 de
março, as pesquisas apontavam a vitória do partido de centro-esquerda Zionist Union, liderado por Isaac Herzog,
mas, em uma reviravolta impressionante, o Likud
conquistou 30 cadeiras no parlamento, 10 a mais do que a estimativa e seis a
mais do que o Zionist Union, vencendo
mais quatro anos de mandato frente ao Knesset.
Este deveria ser um motivo para profundas
preocupações para qualquer um que deseja ver paz na região. Netanyahu precisou
girar radicalmente ainda mais à direita na sua campanha eleitoral, visando
atrair a vasta parcela de extrema-direita ultranacionalista e os partidos
religiosos pro-colonização.
Netanyahu disse que se vencesse as eleições
nunca permitiria a criação do Estado Palestino e que as construções na parte
oriental de Jerusalém, ocupadas pelos Palestinos, continuariam. Apesar de suas
ações no exercício do cargo em 2009 não demonstrarem interesse nas negociações
de paz, ele ao menos manteve um discurso pela solução dos dois-estados. Porém
nestas eleições o atual Primeiro-Ministro contradisse o que havia dito naquela
ocasião, mudando radicalmente o discurso, quando afirmou que gostaria de ver a
formação de um Estado Palestino.
Netanyahu também foi abertamente racista quanto
aos cidadãos árabes de Israel, que representam 20% da população. Ele afirmou
que os mesmos estavam sendo manipulados pelos partidos de esquerda e que isso
“distorceria a verdadeira vontade dos Israelenses” e “garantiria poder
excessivo às fileiras árabes radicais”.
Embora a criação dos dois estados (Israel e
Palestina) não seja o ideal, visto
que a simples existência do Estado racista e usurpador de Israel inviabiliza a
existência pacífica e o desenvolvimento do estado Palestino, o distanciamento
de intenções do Primeiro-Ministro desse pequeno passo conciliatório aponta um
direcionamento em um caminho totalmente oposto àquele necessário para a paz.
Para o próximo governo de Netanyahu, podemos
esperar mais da mesma beligerância e intransigência. Nos seus discursos Netanyahu
manteve-se única e exclusivamente dissertando sobre as ameaças ilusórias do Irã
e da Palestina, ignorando completamente o debate sobre a crise econômica
interna que começa a afetar a qualidade de vida do trabalhador. Os políticos
árabes de Israel expressaram a preocupação de que ainda mais leis discriminatórias
serão aprovadas, enquanto reafirmaram os planos de recorrer às Cortes Criminais
Internacionais.
Onde
entra o Brasil nisso tudo?
No segundo semestre de 2009, o Brasil ingressou
em um Acordo de Livre Comércio entre o Mercosul e Israel, que elimina ou
diminui às taxas aduaneiras na exportação e importação entre os países, sob o
argumento de boas perspectivas econômicas que o intercâmbio traria.
A sede por lucro fácil e maior acúmulo de
capital por parte dos grandes empresários negligenciaram completamente o fato de
que estariam financiando um mercado que gira única e exclusivamente em torno da
guerra e, atualmente, em torno do bloqueio e genocídio da Faixa de Gaza, o
maior campo de concentração a céu aberto do mundo.
Dentre os itens do acordo, estão fornecimento
de armas, munições, tanques e mais maquinários bélicos, todos sob a categoria
de “tarifas aduaneiras eliminadas na entrada em vigência do Acordo”, ou seja, a partir da data de assinatura, o
Brasil começaria a fornecer aparelhagem bélica a preços muito mais acessíveis
para o Exercito fascista de Israel.
Além disso, a
importação de tecnologia bélica israelense vem proporcionando mais e mais
avanços no poder de fogo da polícia militar, fortalecendo à guerra ao tráfico e
o genocídio crescente de residentes das comunidades mais pobres. A taxa de
assassinatos de negros, sob a bandeira “da guerra às drogas” continua
aumentando e seus investimentos continuam evoluindo.
É necessário que o
povo Brasileiro levante como uma de suas bandeiras a Suspensão do Tratado de
Livre Comércio JÁ e o boicote a
TODOS os produtos de origem
israelense. Nós não vamos continuar financiando o genocídio de um povo. É
necessário que sejam feitas sanções e boicotes econômicos ao Estado fascista,
pressionando-os a abandonarem a política bélica contra os países da região,
abrindo espaço para o fortalecimento das forças de oposição e a consequente extinção do estado racista.
Pelo fim dos
acordos comerciais entre Brasil e Israel!
Pelo fim do Estado
fascista de Israel!
Pela liberdade e
autonomia do Estado da Palestina!
Fontes utilizadas:
[1] - Weil, Josef
(org.) (2007), O Oriente Médio na
perspectiva marxista. São Paulo; Editora Sundermann
[2] - Schoenman,
Ralph (1988), A História Oculta do
Sionismo. Santa Barbara; Imprensa Veritas
[3] - MIDDLE EAST
MONITOR, 2009-2015, All rights reserved. Acesso em: 22 mar. 2015.
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