sábado, 4 de abril de 2015

Quando as Urnas Matam Mais que as Balas


 
 
Como uma eleição pode salvar ou matar milhões de pessoas
 
 
 
Guto Aragão – PSTU Alagoinhas
 
Nesse mês de março de 2015 o Oriente Médio sofreu mais um duro golpe: o partido de extrema-direita Likud elegeu 30 cadeiras nas eleições parlamentares israelenses, obtendo à maioria e, portanto, credenciando a manutenção do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu por mais 4 anos.
 
A vitória de Netanyahu representa a continuidade dos ataques aos direitos dos árabes, representantes de 20% da população israelense, e  uma nova onda de ataques à Faixa de Gaza, ultima zona de ocupação não-israelense no território Palestino.
 

O conflito: um resumo da ofensiva israelense

 

Para entendermos o que a vitória do Likud representa, vamos inicialmente entender um pouco sobre o que acontece no território Palestino atualmente.

 

No final do século XIX, época de irrupções nacionalistas por todo mundo, surgiu na alta burguesia européia o sionismo: um movimento político-filosófico que defendia a criação de um Estado unicamente judeu nas terras onde supostamente existiu um Reino chamado de “Eretz Israel”.

 

Israel desde sua fundação constitui-se como um Estado racista, baseado em uma constituição teocrática onde “a terra pertence aos judeus” e, portanto apenas aqueles de descendência ou crença judaica. Tal constituição legitimou cinco décadas de pilhagem e limpeza étnica, dizimando e expulsando os árabes de sua terra por direito. David Ben Gurion, o primeiro-ministro Israelense, anos antes da formação do Estado de Israel publicou a estratégia sionista:

 

Quando nos tornarmos uma força com peso depois da formação do Estado, aboliremos a partição [das terras] e nos expandiremos a toda Palestina. O Estado será somente uma etapa na realização do sionismo, e sua tarefa é preparar o terreno para nossa expansão. O Estado terá que preservar a ordem, não com palavras, mas com metralhadoras.” [1]

 

E assim foi feito. Em menos de um ano, entre 1947 e 1948, data da declaração de independência do Estado de Israel, o exército sionista apoderou-se de 75% da Palestina, expulsando do país setecentos e oitenta mil árabes e realizando uma carnificina tamanha só comparada ao holocausto nazista.

 

Conseguimos perceber que a realidade não mudou muito de lá para cá, visto que a chave do problema está na natureza do Estado de Israel: um Estado teocrático, de um povo só, baseado nas ideias sionistas e um enclave militar do imperialismo estadunidense, que continua sua agressão aos Estados vizinhos, dominando atualmente mais de 90% do território palestino.

 
Assim sendo, quem é Benjamin Netanyahu, o Likud e o que eles representam?
 
Benjamin Netanyahu é um administrador por formação, tendo estudado nos Estados Unidos por toda sua vida acadêmica, como a maioria dos políticos da direita Israelense (coincidência?). Ganhou notoriedade ao liderar a oposição no parlamento, denunciando rigorosamente os acordos de paz entre Israel e a Organização para Libertação da Palestina.
 
Netanyahu ganhou amplo apoio dentro da direita e extrema-direita Israelense, tornando-se chefe do partido Likud e nomeado Primeiro-Ministro pela primeira vez em 1996 e novamente em 2009.
 
Em 2010, um membro do partido árabe “Movimento Árabe para a Renovação” denunciou as práticas dos partidos de direita, liderados pelo Likud:
 
Enfrentamos a discriminação em todas as áreas da vida. Os cidadãos árabes representam 20% da população, mas apenas 6% dos empregados do setor público. Não há nenhum funcionário árabe no Banco Central de Israel. Imagine se não houvesse nenhum cidadão negro empregado no banco central dos Estados Unidos

Israel funciona com três sistemas de governo simultâneos. O primeiro é cheio de democracia em relação aos cidadãos judeus - etnocracia. O segundo é a discriminação racial em relação à minoria palestina - ao estilo das leis Jim Crow. E o terceiro é a ocupação dos territórios palestinos com um conjunto de leis para os palestinos e outro para os assentados judeus – apartheid
.” [1]
 
 
 
 
O processo eleitoral de 2015 e suas consequências
 
Alguns dias antes das eleições do dia 15 de março, as pesquisas apontavam a vitória do partido de centro-esquerda Zionist Union, liderado por Isaac Herzog, mas, em uma reviravolta impressionante, o Likud conquistou 30 cadeiras no parlamento, 10 a mais do que a estimativa e seis a mais do que o Zionist Union, vencendo mais quatro anos de mandato frente ao Knesset.

 
Este deveria ser um motivo para profundas preocupações para qualquer um que deseja ver paz na região. Netanyahu precisou girar radicalmente ainda mais à direita na sua campanha eleitoral, visando atrair a vasta parcela de extrema-direita ultranacionalista e os partidos religiosos pro-colonização.
 
Netanyahu disse que se vencesse as eleições nunca permitiria a criação do Estado Palestino e que as construções na parte oriental de Jerusalém, ocupadas pelos Palestinos, continuariam. Apesar de suas ações no exercício do cargo em 2009 não demonstrarem interesse nas negociações de paz, ele ao menos manteve um discurso pela solução dos dois-estados. Porém nestas eleições o atual Primeiro-Ministro contradisse o que havia dito naquela ocasião, mudando radicalmente o discurso, quando afirmou que gostaria de ver a formação de um Estado Palestino.
 
 
Netanyahu também foi abertamente racista quanto aos cidadãos árabes de Israel, que representam 20% da população. Ele afirmou que os mesmos estavam sendo manipulados pelos partidos de esquerda e que isso “distorceria a verdadeira vontade dos Israelenses” e “garantiria poder excessivo às fileiras árabes radicais”.
 
Embora a criação dos dois estados (Israel e Palestina) não seja o ideal, visto que a simples existência do Estado racista e usurpador de Israel inviabiliza a existência pacífica e o desenvolvimento do estado Palestino, o distanciamento de intenções do Primeiro-Ministro desse pequeno passo conciliatório aponta um direcionamento em um caminho totalmente oposto àquele necessário para a paz.
 
Para o próximo governo de Netanyahu, podemos esperar mais da mesma beligerância e intransigência. Nos seus discursos Netanyahu manteve-se única e exclusivamente dissertando sobre as ameaças ilusórias do Irã e da Palestina, ignorando completamente o debate sobre a crise econômica interna que começa a afetar a qualidade de vida do trabalhador. Os políticos árabes de Israel expressaram a preocupação de que ainda mais leis discriminatórias serão aprovadas, enquanto reafirmaram os planos de recorrer às Cortes Criminais Internacionais.
 


 
Onde entra o Brasil nisso tudo?
 
No segundo semestre de 2009, o Brasil ingressou em um Acordo de Livre Comércio entre o Mercosul e Israel, que elimina ou diminui às taxas aduaneiras na exportação e importação entre os países, sob o argumento de boas perspectivas econômicas que o intercâmbio traria.
 
A sede por lucro fácil e maior acúmulo de capital por parte dos grandes empresários negligenciaram completamente o fato de que estariam financiando um mercado que gira única e exclusivamente em torno da guerra e, atualmente, em torno do bloqueio e genocídio da Faixa de Gaza, o maior campo de concentração a céu aberto do mundo.
 
Dentre os itens do acordo, estão fornecimento de armas, munições, tanques e mais maquinários bélicos, todos sob a categoria de tarifas aduaneiras eliminadas na entrada em vigência do Acordo”, ou seja, a partir da data de assinatura, o Brasil começaria a fornecer aparelhagem bélica a preços muito mais acessíveis para o Exercito fascista de Israel.
 
Além disso, a importação de tecnologia bélica israelense vem proporcionando mais e mais avanços no poder de fogo da polícia militar, fortalecendo à guerra ao tráfico e o genocídio crescente de residentes das comunidades mais pobres. A taxa de assassinatos de negros, sob a bandeira “da guerra às drogas” continua aumentando e seus investimentos continuam evoluindo.


É necessário que o povo Brasileiro levante como uma de suas bandeiras a Suspensão do Tratado de Livre Comércio e o boicote a TODOS os produtos de origem israelense. Nós não vamos continuar financiando o genocídio de um povo. É necessário que sejam feitas sanções e boicotes econômicos ao Estado fascista, pressionando-os a abandonarem a política bélica contra os países da região, abrindo espaço para o fortalecimento das forças de oposição e a consequente extinção do estado racista.
 
Pelo fim dos acordos comerciais entre Brasil e Israel!
Pelo fim do Estado fascista de Israel!
Pela liberdade e autonomia do Estado da Palestina!
 
Fontes utilizadas:
 
[1] - Weil, Josef (org.) (2007), O Oriente Médio na perspectiva marxista. São Paulo; Editora Sundermann
[2] - Schoenman, Ralph (1988), A História Oculta do Sionismo. Santa Barbara; Imprensa Veritas
[3] - MIDDLE EAST MONITOR, 2009-2015, All rights reserved. Acesso em: 22 mar. 2015.
 






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