segunda-feira, 17 de junho de 2013

Manifestações dividem espaço com a Copa das Confederações. Os ventos da primavera começam a soprar no Brasil.





Jean Montezuma, de Salvador.

Nos últimos dias a tão celebrada e aguardada Copa das Confederações, ensaio geral da Copa do mundo, tem tido o seu espaço na grande mídia dividido com outro acontecimento de grandes proporções. A juventude brasileira voltou às ruas, ocupou as avenidas das grandes cidades brasileiras, desafiou os governos e não se dobrou nem mesmo frente a dura repressão dos batalhões de choques das policias militares.
A última quinta, dia 13, foi sacudida por atos em 7 capitais do país. No Rio e em São Paulo, nossas duas maiores cidades, foram 10 mil nas ruas enfrentando a polícia e gritando em uma só voz “Contra o aumento das tarifas!” “Não é por centavos, e sim por direitos!”. O tamanho dos protestos, a determinação dos jovens ativistas, a resistência frente a repressão policial, tudo isso nos fez lembrar as imagens que nos últimos anos temos acompanhado nos noticiários quando mostram os grandes atos na Espanha, Portugal, Egito, ou Turquia. A magnitude das manifestações rompeu o bloqueio da mídia e atraiu atenção do país.
Já neste sábado, dia 15, foi a vez de Brasília e Salvador se levantarem. Na capital federal uma enorme manifestação furou os bloqueios policiais e antes de ser duramente reprimida chegou bem em frente ao estádio Mané Garrincha, onde a seleção brasileira jogaria contra o Japão na estreia da Copa das Confederações. Quais eram as reivindicações? Uma garota segurava um cartaz que dizia ”Copa da Corrupção!” e outra erguia um com o questionamento “Quando o seu filho ficar doente você vai levar ele no estádio?” A questão não é o futebol, mais uma vez, o que esta em jogo são nossos direitos.
Em Salvador uma passeata em solidariedade as manifestações ocorridas em São Paulo e no Rio levou cerca de 400 jovens as ruas e terminou com um ato que interditou por cerca de uma hora a estação da Lapa, maior da cidade, que esta nos planos de privatização da prefeitura de ACM Neto (DEM).
Após o ano de 2012 onde vimos a eclosão da maior greve da história das Universidades brasileiras seria injusto dizer que a juventude não vem lutando e resistindo como pode aos ataques. Porém, o que vimos essa semana foi o sentimento de indignação contra mais essa injustiça social explodir transformando-se em ação, em gente na rua, e em proporções multitudinárias! Em geral os governos menosprezam a força dos movimentos sociais, costumeiramente debocham e dizem que não passam de uma minoria, mas, por trás da aparência impávida de Alkimim, Cabral e Haddad, existe uma clara preocupação com a força das mobilizações e principalmente com o sentimento de apoio e solidariedade que a população tem demonstrado.
Em meio às inúmeras cenas uma imagem em especial chamou atenção. Um jovem segurava um cartaz com uma mensagem simples, porém direta, que dizia “Nós saímos do Facebook.”.
Prefeituras e governos brasileiros, craques na venda de direitos.
A fórmula nefasta é sempre a mesma. Durante as eleições os donos das empresas de transportes financiam as campanhas de prefeitos e vereadores. Após as eleições esse “investimento” é retribuído em forma de renovação de contratos e principalmente aumento das tarifas. Isso acontece porque o sistema de transporte público no Brasil foi entregue a iniciativa privada e essa privatização, tão defendida pelo PT-DEM-PSDB-PMDB, trouxe a precarização dos serviços e um aumento progressivo e injustificado das tarifas.
Começou com Porto Alegre, depois veio Natal, agora no Rio e em São Paulo. Os aumentos das tarifas, nos marcos dos péssimos serviços prestados, são uma afronta a população e não podem ser vistos de outra forma senão como ataques aos direitos da juventude e dos trabalhadores. Os governos brasileiros se tornaram craques na arte de vender os direitos do povo para encher os bolsos de meia dúzia de banqueiros e empresários.
A verdade é que nesses 10 anos de PT, ao contrário do que muitos esperavam, essa lógica foi ainda mais reforçada. Um exemplo disso foram os recentes leilões de nossas reservas de petróleo e a privatização dos portos e aeroportos. Recentemente foi aprovado o estatuto da juventude, um grave ataque aos direitos dos jovens brasileiros. O estatuto aprovado, que infelizmente teve o entusiástico apoio da UNE, entre outras coisas restringe o direito a meia-entrada em cinemas, teatros, shows e eventos culturais a 40%. Num país onde o acesso a cultura já é quase que absolutamente privatizado e por conta disso distante da ampla maioria dos jovens, o governo Dilma restringe ainda mais esse acesso para satisfazer os interesses do empresariado que lucra alto transformando cultura em negocio.
Desculpem os transtornos, estamos mudando o país.
“Um bando de baderneiros! Uma minoria que desrespeita a ordem e vai ás ruas promover o vandalismo e desafiar a policia”. Os governos e seus parceiros da grande mídia tentaram mais uma vez taxar o movimento com esse tipo de rótulo reacionário e grosseiro. Em uma enquete no seu programa Brasil Urgente José Luiz Datena, famoso por suas posições reacionárias, tentou sem sucesso mostrar como o povo esta contra o que ele chamou de “protestos com badernas”. Para a sua surpresa, 2179 pessoas disseram sim e apenas 915 se deixaram levar pela sua demagogia. A verdade é que além da dura batalha nas ruas o movimento tem enfrentado em paralelo uma outra batalha, também difícil,  e que se dá no terreno da consciência dos trabalhadores e da população que tem acompanhado as mobilizações.
A ação truculenta da PM que não poupou balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio nem mesmo para a imprensa que fazia a cobertura dos atos tornou difícil a tarefa dos governos de isolar do apoio popular as manifestações. No primeiro momento muitos diziam “tá bem, eu até concordo com a causa, mas quebrar ônibus, viaturas e agredir policiais já virou vandalismo”. Depois da última quinta a maré virou e até mesmo a poderosa Rede globo foi obrigada a veicular as bárbaras imagens das ações policiais e reconhecer a repressão.
A equipe do jornal Opinião Socialista e do portal do PSTU foi alvejada pelas balas e bombas da PM, uma jornalista da Folha de São Paulo levou um tiro de bala de borracha na altura dos olhos e corre o risco de perder a visão, um vídeo exibido no Jornal Nacional mostra o momento em que um PM quebra os vidros de uma viatura para forjar o tal vandalismo dos manifestantes. Todos esses exemplos combinados despertaram a solidariedade da opinião pública e deixaram os governos e o alto comando das policias militares maus lençóis.
Em busca de mais corações e mentes.
De fora do Brasil manifestações de apoio as mobilizações são enviadas de países como a Turquia, Espanha e Estados Unidos. A solidariedade internacional vinda dessas regiões deve ser vista como um estímulo importante para as nossas lutas pois mesmo se enfrentando duramente com o seu governo os jovens turcos, por exemplo, não deixaram de se comover com a violenta repressão sofrida pelos atos brasileiros enviaram mensagens de solidariedade. Isso acontece, porque mesmo em continentes diferentes os governos do Brasil e Turquia, podemos estender para Espanha, Portugal, Síria e Estado Unidos possuem em comum a disposição para fazer de tudo para evitar que o povo mobilizado assuma as rédeas do seu destino.
Nos próximos dias novos atos estão marcados em diversas capitais do Brasil. É preciso defender e apoiar as mobilizações, é possível e necessário transformamos os milhares da semana passada em milhões. A juventude brasileira mais uma vez tem cumprido um papel importante ao escancarar as contradições de nossa sociedade. Um país que tem a sexta maior economia do mundo segue profundamente desigual e enquanto os donos das empreiteiras, os banqueiros, especuladores e a burguesia brasileira fazem a festa e se divertem com a Copa das Confederações a grande maioria tem sofrido com os ataques cada vez mais graves a direitos como a saúde, educação e transporte.
É hora dos trabalhadores através dos sindicatos e das centrais sindicais se somarem a essa luta. Em Salvador, os rodoviários que há meses estão em campanha salarial se enfrentando com a intransigência da patronal aprovaram greve geral para terça dia 18 e o ato dos estudantes já manifestou seu apoio a essa luta. Devemos multiplicar esse exemplo, por todo Brasil será fundamental a entrada em cena de outros setores dos movimentos sociais, é hora de colocarmos na mesma barricada estudantes, rodoviários, metroviários, ativistas do movimento sem teto e dos atingidos pela Copa, além do mais amplo setor da classe trabalhadora para derrotar mais esse ataque orquestrado por governos e empresariado.
Contra o aumento das passagens!
Todo apoio e solidariedade as lutas da juventude brasileira!
Libertação imediata dos presos políticos!
Auditoria já nas contas das empresas de transporte público!
Passe livre estudantil já!
Pela estatização do transporte público!

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