Jean Montezuma, de Salvador.
Nos últimos dias a tão celebrada
e aguardada Copa das Confederações, ensaio geral da Copa do mundo, tem tido o seu espaço na grande mídia dividido com outro
acontecimento de grandes proporções. A juventude brasileira voltou às ruas,
ocupou as avenidas das grandes cidades brasileiras, desafiou os governos e não
se dobrou nem mesmo frente a dura repressão dos batalhões de choques das
policias militares.
A última quinta, dia 13, foi
sacudida por atos em 7 capitais do país. No Rio e em São Paulo, nossas duas
maiores cidades, foram 10 mil nas ruas enfrentando a polícia e gritando em uma
só voz “Contra o aumento das tarifas!” “Não é por centavos, e sim por
direitos!”. O tamanho dos protestos, a determinação dos jovens ativistas, a
resistência frente a repressão policial, tudo isso nos fez lembrar as imagens
que nos últimos anos temos acompanhado nos noticiários quando mostram os
grandes atos na Espanha, Portugal, Egito, ou Turquia. A magnitude das
manifestações rompeu o bloqueio da mídia e atraiu atenção do país.
Já neste sábado, dia 15, foi a
vez de Brasília e Salvador se levantarem. Na capital federal uma enorme
manifestação furou os bloqueios policiais e antes de ser duramente reprimida
chegou bem em frente ao estádio Mané Garrincha, onde a seleção brasileira
jogaria contra o Japão na estreia da Copa das Confederações. Quais eram as
reivindicações? Uma garota segurava um cartaz que dizia ”Copa da Corrupção!” e
outra erguia um com o questionamento “Quando o seu filho ficar doente você vai
levar ele no estádio?” A questão não é o futebol, mais uma vez, o que esta em
jogo são nossos direitos.
Em Salvador uma passeata em
solidariedade as manifestações ocorridas em São Paulo e no Rio levou cerca de
400 jovens as ruas e terminou com um ato que interditou por cerca de uma hora a
estação da Lapa, maior da cidade, que esta nos planos de privatização da
prefeitura de ACM Neto (DEM).
Após o ano de 2012 onde vimos a
eclosão da maior greve da história das Universidades brasileiras seria injusto
dizer que a juventude não vem lutando e resistindo como pode aos ataques.
Porém, o que vimos essa semana foi o sentimento de indignação contra mais essa
injustiça social explodir transformando-se em ação, em gente na rua, e em
proporções multitudinárias! Em geral os governos menosprezam a força dos
movimentos sociais, costumeiramente debocham e dizem que não passam de uma
minoria, mas, por trás da aparência impávida de Alkimim, Cabral e Haddad,
existe uma clara preocupação com a força das mobilizações e principalmente com
o sentimento de apoio e solidariedade que a população tem demonstrado.
Em meio às inúmeras cenas uma
imagem em especial chamou atenção. Um jovem segurava um cartaz com uma mensagem
simples, porém direta, que dizia “Nós saímos do Facebook.”.
Prefeituras e governos
brasileiros, craques na venda de direitos.
A fórmula nefasta é sempre a
mesma. Durante as eleições os donos das empresas de transportes financiam as
campanhas de prefeitos e vereadores. Após as eleições esse “investimento” é
retribuído em forma de renovação de contratos e principalmente aumento das
tarifas. Isso acontece porque o sistema de transporte público no Brasil foi
entregue a iniciativa privada e essa privatização, tão defendida pelo
PT-DEM-PSDB-PMDB, trouxe a precarização dos serviços e um aumento progressivo e
injustificado das tarifas.
Começou com Porto Alegre, depois
veio Natal, agora no Rio e em São Paulo. Os aumentos das tarifas, nos marcos
dos péssimos serviços prestados, são uma afronta a população e não podem ser
vistos de outra forma senão como ataques aos direitos da juventude e dos
trabalhadores. Os governos brasileiros se tornaram craques na arte de vender os
direitos do povo para encher os bolsos de meia dúzia de banqueiros e
empresários.
A verdade é que nesses 10 anos
de PT, ao contrário do que muitos esperavam, essa lógica foi ainda mais
reforçada. Um exemplo disso foram os recentes leilões de nossas reservas de
petróleo e a privatização dos portos e aeroportos. Recentemente foi aprovado o
estatuto da juventude, um grave ataque aos direitos dos jovens brasileiros. O
estatuto aprovado, que infelizmente teve o entusiástico apoio da UNE, entre outras
coisas restringe o direito a meia-entrada em cinemas, teatros, shows e eventos
culturais a 40%. Num país onde o acesso a cultura já é quase que absolutamente
privatizado e por conta disso distante da ampla maioria dos jovens, o governo
Dilma restringe ainda mais esse acesso para satisfazer os interesses do
empresariado que lucra alto transformando cultura em negocio.
Desculpem os transtornos,
estamos mudando o país.
“Um bando de baderneiros! Uma minoria que desrespeita a ordem e vai ás
ruas promover o vandalismo e desafiar a policia”. Os governos e seus
parceiros da grande mídia tentaram mais uma vez taxar o movimento com esse tipo
de rótulo reacionário e grosseiro. Em uma enquete no seu programa Brasil
Urgente José Luiz Datena, famoso por suas posições reacionárias, tentou sem
sucesso mostrar como o povo esta contra o que ele chamou de “protestos com
badernas”. Para a sua surpresa, 2179 pessoas disseram sim e apenas 915 se
deixaram levar pela sua demagogia. A verdade é que além da dura batalha nas ruas
o movimento tem enfrentado em paralelo uma outra batalha, também difícil, e que se dá no terreno da consciência dos
trabalhadores e da população que tem acompanhado as mobilizações.
A ação truculenta da PM que não
poupou balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio nem mesmo para a imprensa
que fazia a cobertura dos atos tornou difícil a tarefa dos governos de isolar
do apoio popular as manifestações. No primeiro momento muitos diziam “tá
bem, eu até concordo com a causa, mas quebrar ônibus, viaturas e agredir
policiais já virou vandalismo”. Depois da última quinta a maré virou e até
mesmo a poderosa Rede globo foi obrigada a veicular as bárbaras imagens das
ações policiais e reconhecer a repressão.
A equipe do jornal Opinião
Socialista e do portal do PSTU foi alvejada pelas balas e bombas da PM, uma
jornalista da Folha de São Paulo levou um tiro de bala de borracha na altura
dos olhos e corre o risco de perder a visão, um vídeo exibido no Jornal
Nacional mostra o momento em que um PM quebra os vidros de uma viatura para
forjar o tal vandalismo dos manifestantes. Todos esses exemplos combinados
despertaram a solidariedade da opinião pública e deixaram os governos e o alto
comando das policias militares maus lençóis.
Em busca de mais corações e
mentes.
De fora do Brasil manifestações
de apoio as mobilizações são enviadas de países como a Turquia, Espanha e
Estados Unidos. A solidariedade internacional vinda dessas regiões deve ser
vista como um estímulo importante para as nossas lutas pois mesmo se enfrentando
duramente com o seu governo os jovens turcos, por exemplo, não deixaram de se
comover com a violenta repressão sofrida pelos atos brasileiros enviaram
mensagens de solidariedade. Isso acontece, porque mesmo em continentes
diferentes os governos do Brasil e Turquia, podemos estender para Espanha,
Portugal, Síria e Estado Unidos possuem em comum a disposição para fazer de
tudo para evitar que o povo mobilizado assuma as rédeas do seu destino.
Nos próximos dias novos atos
estão marcados em diversas capitais do Brasil. É preciso defender e apoiar as
mobilizações, é possível e necessário transformamos os milhares da semana
passada em milhões. A juventude brasileira mais uma vez tem cumprido um papel
importante ao escancarar as contradições de nossa sociedade. Um país que tem a
sexta maior economia do mundo segue profundamente desigual e enquanto os donos
das empreiteiras, os banqueiros, especuladores e a burguesia brasileira fazem a
festa e se divertem com a Copa das Confederações a grande maioria tem sofrido
com os ataques cada vez mais graves a direitos como a saúde, educação e
transporte.
É hora dos trabalhadores através
dos sindicatos e das centrais sindicais se somarem a essa luta. Em Salvador, os
rodoviários que há meses estão em campanha salarial se enfrentando com a
intransigência da patronal aprovaram greve geral para terça dia 18 e o ato dos
estudantes já manifestou seu apoio a essa luta. Devemos multiplicar esse
exemplo, por todo Brasil será fundamental a entrada em cena de outros setores
dos movimentos sociais, é hora de colocarmos na mesma barricada estudantes,
rodoviários, metroviários, ativistas do movimento sem teto e dos atingidos pela
Copa, além do mais amplo setor da classe trabalhadora para derrotar mais esse
ataque orquestrado por governos e empresariado.
Contra o aumento das passagens!Todo apoio e solidariedade as lutas da juventude brasileira!
Libertação imediata dos presos políticos!
Auditoria já nas contas das empresas de transporte público!
Passe livre estudantil já!
Pela estatização do transporte público!
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