Jovens nas ruas, primeiro ao milhares, depois dezenas
de milhares, logo chegando à impressionante marca de mais de 1 milhão na última
quinta, quando 102 cidades brasileiras tornaram-se palco de manifestações. Nas
últimas duas semanas, não foi a seleção e a Copa das Confederações, mas a juventude brasileira que deu um verdadeiro
espetáculo. O espetáculo das ruas tomadas que sacudiu o país, transformando
indignação em ação, desafiando a dura repressão dos policiais militares e
questionando os governos. Os dias que vivemos no Brasil são resultado de uma
política econômica voltada para atender aos interesses de uma minoria formada
por banqueiros, especuladores e latifundiários em detrimento da maioria da
população. O Brasil dos modernos estádios da Copa investe menos de 5% do PIB em
educação e menos de 3% na saúde. O Brasil que tem a sexta maior economia do
mundo ocupa apenas o 85º lugar no ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)
e, justamente por isso, a razão pela qual as ruas estão sendo ocupadas vai
muito além do agora revogado aumento das
passagens. As injustiças sociais de um país tão rico e ao mesmo tempo tão
desigual são o combustível que alimenta a luta.
Na Bahia não é diferente. Wagner aplica em nosso
estado a mesma política econômica do governo federal e após 7 de anos de
governo as contradições entre o crescimento econômico e os indicadores sociais
impressiona. A Bahia é o 6º estado mais rico do país, porém somos campeões em
analfabetismo, a região metropolitana de Salvador tem a maior taxa de
desemprego (19,7%), o número de homicídios aumentou 300%, e o tratamento dado
aos serviços públicos também vai de mal a pior. Como não lembrar dos 115 dias
de greve dos professores ano passado? Também não dá pra esquecer o golpe dado
no Planserv em 2011 e tantos outros ataques aos funcionários públicos. A Bahia
também foi tomada por mobilizações durante a última semana. Atos ocorreram em
várias cidades do interior e em Salvador ocorreram três grandes manifestações.
Infelizmente a reação de Wagner nos fez lembrar os tempos do Carlismo. A
policia militar reprimiu violentamente os atos, disparando balas de borracha e
bombas contra os manifestantes. Foi o governo do PT, e não os jovens que
estavam na manifestação, que transformou as ruas da capital numa zona de guerra,
uma guerra contra o povo, uma violência a serviço da defesa dos interesses do
empresariado.
Em todo o mundo, em especial na Europa e no Oriente Médio,
jovens e trabalhadores tem ido às ruas protestar, enfrentar os governos, lutar
por suas vidas. Acompanhamos a heroica luta do povo Sírio contra o Ditador
Bashar Al Assad e também as greves gerais e os grandes atos no continente
europeu, onde os governos e a burguesia estão jogando nos ombros da classe
trabalhadora os ônus da crise econômica em forma de desemprego e retirada de
direitos. Aqui no Brasil, a inflação crescente tem contribuído para minar a
sensação de bem-estar que existia na população, desmontando a imagem do “Brasil
Maravilha” que o governo Dilma tanto propagandeia. É possível ver, tanto no
preço dos alimentos cada vez mais altos quanto na precarização dos serviços
públicos, que as condições de vida para a classe trabalhadora brasileira
caminham no sentido oposto do que aparece nas propagandas do governo. A saída
para mudar essa situação é apenas uma: a política. Não a política dos
engravatados de Brasília, mas a política da luta direta, do povo nas ruas, das
manifestações. Essa política que nos últimos dias tomou conta das ruas, dos
noticiários da TV, dos corações e mentes de mais e mais pessoas.
Assim como foi em 92 com os caras pintadas e o Fora
Collor, a juventude mais uma vez tem cumprido um importante papel mostrando
para todos que o caminho é a luta. Uma luta determinada que não se dobra à frente
repressão policial e tampouco se deu por satisfeita com a vitória na revogação
do aumento das tarifas. A força do movimento colocou contra a parede primeiro
as prefeituras e governos estaduais, depois o próprio governo federal. O primeiro
pronunciamento oficial de Dilma não ofereceu nenhuma medida concreta, e a
resposta no dia seguinte foi a continuidade das mobilizações. O novo
pronunciamento revela mais uma vez o caráter do governo que tem proposto
medidas que favorecem o setor privado, como é o caso das isenções de impostos
para as empresas de transporte e da continuidade dos leilões do petróleo com a
desculpa de que uma pequena parte (royalties) vai ser destinada à educação. O PT, outrora forjado nas lutas, foi de malas
e bagagens para o time da burguesia, aplica a mesma política econômica que a
sua oposição direita (PSDB-DEM) aplicava, e tem feito a alegria da burguesia
brasileira e do imperialismo à custa de uma exploração cada vez maior da classe
trabalhadora.
Por conta dessa traição, julgamos ser honesto o
sentimento de descrença nos partidos, porém o caminho seguido pelo PT não deve
justificar a negação dos partidos. Os gritos de “fora partido”, as agressões
físicas aos militantes, são fruto da ação de grupos de direita infiltrados que
não refletem a totalidade do movimento. Essas ações devem ser repudiadas e
esses grupos não são os aliados que a juventude precisa. Uma aliança verdadeira
deve ser firmada com a classe trabalhadora e suas organizações e métodos de
luta. A esquerda que não mudou de lado como fez o PT, que se manteve fiel aos
princípios do classismo e da estratégia revolucionária, deve continuar
levantando as bandeiras vermelhas, engrossando as fileiras da luta. É esse o
papel que tem assumido o PSTU. Nos inúmeros atos ocorridos não foram poucos os
nossos militantes que foram agredidos pelos fascistas e provocadores infiltrados nas mobilizações.
Porém, nos mantivemos firmes participando dos atos, impulsionando a luta e
focando sempre nos verdadeiros inimigos: os governos e os patrões.
Essa semana que se inicia será decisiva para o futuro
do movimento. Faz-se necessária a entrada em cena da classe trabalhadora. É
urgente combinar a vivacidade e o dinamismo da juventude ao papel estratégico
dos trabalhadores. Precisamos que as ruas sejam tomadas também por operários,
metalúrgicos, bancários, funcionários públicos, professores, todos os setores
da classe e em especial aqueles que protagonizaram grandes lutas no período
recente. Para isso, as centrais sindicais não podem fugir das suas responsabilidades.
A CSP-Conlutas está convocando para o dia 27/06 um dia nacional de mobilização,
com paralisações e atos unificados. Na Bahia, a CTB, que é a maior central do
estado, precisa definir de qual lado pretende ficar. O governo Wagner tem sido
um verdadeiro carrasco dos trabalhadores, em especial com o funcionalismo
estadual. É hora de, através da FETRAB, convocar esses trabalhadores para irem às
ruas contra esse governo. O mesmo vale para a construção civil onde as
empreiteiras têm ganhado fortunas com a Copa e os operários seguem com salários
arrochados e jornadas de trabalho extenuantes. Um governo que ataca os direitos
dos trabalhadores, que direciona a riqueza do estado para o bolso dos
empresários e não para melhoria dos serviços públicos; um governo que
criminaliza as greves e usa da polícia para reprimir violentamente as
manifestações não pode ser, de modo algum, aliado dos trabalhadores. Chamamos a
CTB para que rompa com esse governo e aposte todas as suas fichas na força que a
classe trabalhadora em luta possui. O 02 de Julho que se avizinha deve ser
transformado num dia de luta contra as injustiças sociais e também contra o
governo de Wagner, que traiu as expectativas dos trabalhadores e continuou, assim
como fazia o Carlismo, governando a Bahia para os ricos.
Por fim, mais uma vez declaramos todo nosso apoio e
compromisso com as lutas em curso. Os atos devem continuar e esse movimento
precisa crescer. Chamamos os sindicatos, os movimentos sociais, as centrais
sindicais, as entidades estudantis, as organizações e partidos de esquerda para
engrossarem as mobilizações. Nenhuma confiança nos governos e menos ainda nos
setores da direita, em especial aqueles que nos atos agridem fisicamente os
militantes e mandam baixar as bandeiras vermelhas. Vamos colocar em prática a
aliança operário-estudantil, organizar a luta, parar o país e retirar das mãos
da burguesia e do governo o controle sobre o destino de nossas vidas.
-Todo apoio às mobilizações!
-27 de junho: dia nacional de luta com paralisações, greves e
atos nas ruas!
- Pelo Fim do Setps! Municipalização do transporte coletivo!
- Aumento dos salários para compensar a inflação!
- Congelamento dos preços dos alimentos e das tarifas
públicas!
- Contra a repressão, a violência policial, a criminalização
das lutas e das organizações dos trabalhadores.
Salvador
24 de junho de 2013
Direção Estadual do PSTU - Bahia
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