LIÇÕES
DA LUTA CONTRA A EBSERH
Juventude do PSTU,
Salvador-BA.
Estamos vivendo um processo
de luta muito revelador no país e na nossa universidade federal da Bahia: a
luta contra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. A EBSERH é uma
Empresa Pública de direito Privado criada por uma medida provisória da
presidenta Dilma para gerir os Hospitais Universitários. O nefasto processo de
precarização e privatização dos nossos HU’s segue a mesma lógica dos políticos
da velha direita, que começaram a implementar o projeto neoliberal no país
(Collor, FHC): precarizar ao máximo os serviços públicos para justificar a
‘necessidade’ de sua privatização (a realidade já mostrou que a privatização
não melhora os serviços, muito pelo contrário); mas inova e aprofunda essa
lógica, com as recentes privatizações chamadas de “concessões” do governo Lula
e Dilma, entregando nossas riquezas eos Serviços do Estado à burguesia nacional
e estrangeira de forma sutil e disfarçada, assim como está sendo feito com os Correios,
a Petrobrás, os aeroportos, portos, rodovias etc.
Nossa luta diária é também de disputa de consciência, de
combate à lógica neoliberal, ou seja, é ideológica. No atual contexto histórico
soma-se à necessidade desmentir a falácia de que a privatização é a saída para
tornar os serviços mais eficientes e modernos outra tarefa ainda mais difícil:
demonstrar como o projeto neoliberal segue sendo implementado no país, com novas
denominações e mascaras. À medida que o atual governo privatiza de forma
disfarçada e fragmentada, como ao criar a EBSERH como uma empresa ‘pública’ de
direito privado, enfraquece a resistência a tais projetos no próprio movimento
dos lutadores.
Em que pese toda a dificuldade de organizar a luta contra
a implementação de políticas que estão a serviço das elites e da burguesia, por
estas estarem sendo implementadas por um governo que o povo e alguns lutadores
identificam como seu, as experiências das próprias lutas que inevitavelmente
vão se erguendo são importantíssimas para impulsionar essa conscientização.
1.
A DISPUTA
INSTITUCIONAL E A LUTA DIRETA
Tem
sido lembrado a infeliz coincidência de data deste o CONSUNI com o que aprovou
o REUNI na UFBA (19 de outubro de 2007, quase exatamente depois de 5 anos). Mas
a coincidência não é só na data, esse Conselho repetiu a mesma forma truculenta
e anti-democrática com que o REUNI foi implementado goela abaixo da comunidade
acadêmica na UFBA, bem como nas demais universidades federais do país, sem fomentar um suficiente debate democrático
entre os estudantes, professores e técnicos, e sob a pressão das chantagens quanto
ao repasse de recursos. O governo praticamente exigiu, sem apresentar outra
alternativa, que as reitorias aprovassem a EBSERH, fez exatamente igual na
implementação do REUNI. Também foi idêntica a subserviência da Reitoria, Naomar
em 2007, Dora em 2012. O história se repetiu, dessa vez ainda como tragédia.
A luta travada nas diversas congregações para disputar os
votos contra a adesão à empresa é um passo válido e muito importante. Conseguir
barrar a EBSERH no CONSUNI não seria suficiente para impedir a adesão ao
projeto, mas seria um ponto de apoio para fortalecer a luta e enfraquecer nossos
inimigos. Ainda que não tenhamos conseguidos votos suficientes para barrar via
CONSUNI, cada voto contra a EBSERH foi importante, pois significou uma vitória na
luta contra a privatização.
Chegando ao CONSUNI, os estudantes ficaram indignados ao
assistirem a encenação de democracia da administração central, escondendo o
conjunto de condições desfavoráveis que fazem deste conselho um campo onde o
que de fato vale são outros interesses, não o dos estudantes e dos trabalhadores.
A lição que temos que tirar daí é que a disputa institucional é limitada pelo
próprio caráter destas instituições. Ela segue sendo válida e legítima,
entretanto quando está voltada para fortalecer a luta direta, a única que garante
conquistas e mudanças que não dependerão de nenhum “voto contra” ou
“golpes burocráticos”.
2. A INDEPENDÊNCIA E O ENFRENTAMENTO AO GOVERNO.
Infelizmente
a votação no CONSUNI foi derrotada não só pela ação dos agentes da direita,
alguns dos nossos representantes estudantis faltaram propositalmente à votação.
Aqui não queremos fazer uma denúncia para enfraquecer o movimento, nem deixamos
de reconhecer de forma justa, mesmo sendo oposição à atual gestão do DCE, a
atuação comprometida de alguns dos seus diretores, em especial do Coletivo O
ESTOPIM. Mas não podemos deixar de denunciar que os conselheiros do coletivo
FLORES DE MAIO, por causa do seu comprometimento com o governo Dilma e todos
seus projetos inclusive o da EBSERH, não compareceram a essa votação decisiva e
histórica. Não ganharíamos a votação, mais sairíamos muito mais fortalecidos se
o movimento estudantil estivesse por completo unido contra essa privatização.
A
luta contra a EBSERH precisa seguir, e para isso achamos que está na hora de
tirar outra conclusão importantíssima: enfrentar Dora para derrubar a EBSERH na
UFBA é imprescindível, mas para derrotar a EBSERH é preciso construir também uma
luta unitária para enfrentar Dilma e derrubar esse projeto nacionalmente. Para
isso é necessário independência frente a esse governo. Algumas correntes do
movimento estudantil consideram um pecado mortal citar Dilma na luta contra a
EBSERH, mas perguntamos a esses companheiros quem foi governo que criou essa
empresa? Para nossa luta ser vitoriosa ela deve se enfrentar contra o principal
agente das atuais privatizações: o governo Dilma. Por isso é tão importante a
palavra de ordem: Dilma, abaixo a EBSERH! Por isso é tão necessário articular
essa luta nacionalmente numa entidade estudantil independente do governo.
Aqui
também cabe uma pergunta aos companheiros, Qual o papel que a UNE cumpriu na
luta contra a EBSERH? Houve uma articulação nacional dessa luta através da
entidade que deveria fazer isso? Porque a UNE não o fez? Pelo mesmo motivo que
os conselheiros do coletivo FLORES DE MAIO não compareceram ao CONSUNI. É
justamente por isso que nós achamos que o momento histórico em que vivemos,
onde as lutas seguem surgindo de norte a sul do país e precisam ser
fortalecidas numa perspectiva maior, nacional, a existência de uma entidade
nacional independente do governo que supere a falência da UNE é uma
necessidade. Na greve que acabamos de viver o CNGE (Comando Nacional de Greve
Estudantil) cumpriu esse papel. A greve acabou e o foi comando dissolvido, mas as lutas seguem.
Por isso que nós, junto com outros companheiros e companheiras, construímos a
ANEL (Assembléia Nacional dos Estudantes – Livre), como uma alternativa a essa
necessidade.
A
EBSERH não é uma política isolada. Ela se relaciona com um conjunto muito maior
de políticas que vem sendo implementadas no último período inserindo cada vez
mais a lógica neoliberal na educação. Esse processo, que começou já a muito
tempo, deu um salto com as medidas, decretos e projetos dos governos Lula e
Dilma, que fatiaram a Reforma Universitária.
Primeiro
veio já em 2004, a Lei de Inovação Tecnológica, que permite adequar o
conhecimento produzido na universidade às demandas do mercado, combinado com a
Lei das Fundações Privadas, abrindo ainda mais espaço para que as fundações de
direito privado fossem as financiadoras desses projetos ‘inovadores’. Não é
difícil concluir os interesses do setor privado: que este obviamente vai querer
lucrar, utiliza-se do espaço e estruturas públicas e determinando a lógica da
produção de conhecimento, que deveria estar voltada para as necessidades das
pessoas e não para o lucro.
Lula
também cria o SINAES (Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior) e o
ENADE (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes), estimulando a competitividade
e produtividade também no ensino público. Na sequência cria o REUNI: este, bem
conhecido nosso, condiciona o repasse e aumento de verbas ao cumprimento de
metas administrativas: conclusão de 90% dos matriculados, redução da proporção,
quase pela metade, de professor por aluno, aumentando assim a exploração dos
docentes e enfraquecendo a pesquisa e extensão.
Assim
como o projeto da EBSERH as medidas neoliberais pra educação vieram muito bem
disfarçadas. O REUNI é o maior expoente desse ‘jogo’ dos governos petistas. A
expansão das universidades federais é uma reivindicação histórica dos
movimentos sociais e da luta dos trabalhadores, o governo pegou essa pauta e
promoveu uma expansão que aprofunda a lógica neoliberal no ensino superior no
país. Promove uma expansão aquém das necessidades da juventude pobre (que segue
fora do ensino superior público) a medida que transforma a maioria das
universidade em escolões de entrega e diplomas e consolida a elitização de
algumas “universidades de ponta”, aquelas em que o investimento privado mais investe.
Ou seja, é uma pequena expansão com uma profunda mudança no caráter do ensino
superior. A UNE e diversas correntes do movimento estudantil ajudam o governo
ao propagandear a expansão promovida pelo REUNI como a única possível, escondendo
seu caráter neoliberal e ajudando a minar a resistência contra esse processo de
desmonte da educação pública em nosso país.
E o
que tem a ver o REUNI com a EBSERH? A lógica dessas políticas é a mesma. Na
medida que o projeto REUNI não garantia um aumento de verbas proporcional à
expansão, enfraquecendo os já difíceis e escassos recursos humanos e
estruturais da universidade, somado as outras políticas que citamos
anteriormente nesse texto, abria ainda mais o caminho para a entrada do capital
privado na universidade, num processo sutil de privatização. Na UFBA os
institutos mais bem equipados não são aqueles que dependem da verba pública,
como os cursos em São Lázaro, mas sim aqueles em que empresas como ODEBRECH já
fazem parte do dia-dia, como a Politécnica, usando da universidade para
reproduzir sua lógica e seguir melhor explorando e lucrando. A precarização do
Hospital Universitário, utilizada para legitimar a adesão à gestão da EBSERH,
está profundamente relacionada com essa lógica e conjunto de medidas neoliberais
apresentadas como as “saídas” pelo governo federal e implementadas fielmente
pelos reitores da nossa universidade. Mas no caso da EBSERH fica muito mais
claro que o conteúdo desses tipos de “soluções imediatas para os problemas que vivemos”
escondem um processo de privatização.
E esse
processo continua: as metas do REUNI, os decretos, leis e medidas, todos estão
sendo incorporados no novo Plano Nacional de Educação do governo Dilma. Mais
uma vez, na tentativa de esconder seu verdadeiro caráter, o governo alardeia a
incorporação dos 10% do PIB ao plano. A UNE, que sentou pra negociar isso em
nome dos estudantes em greve, ou seja, boicotando o CNGE (que foi eleito
democraticamente nas assembleias de greve em todo o país), ajuda o governo
nessa tarefa de confundir os estudantes. Não falam, no entanto, que no PNE o
compromisso desses 10% é para 2023, ou seja, daqui dez anos, e também para
educação privada, que cresceu como nunca nos últimos governos!
4. A LUTA SE TORNA CADA VEZ MAIS FORTE
Nós
avaliamos que a luta contra a EBSERH tem sido importantíssima, nesse sentido
parabenizamos o conjunto dos companheiros(as) que vem se empenhando nela,
especialmente o Fórum Acadêmico de Saúde, como principal espaço de articulação
das diversas atividades. O fato de não termos conseguido derrotar a EBSERH no
CONSUNI não significa que essa luta não é vitoriosa em muitos aspectos. Cada
batalha acumula para a luta, que é permanente. Além dos esforços locais, a disputa
contra a EBSERH teve a repercussão e força também por conta do acúmulo que
trouxe a greve da educação e do funcionalismo público que sacudiu as
universidades federais a alguns meses.
Assim
como a greve nacionalmente ajudou a desvelar o REUNI e o PNE, a luta contra a
EBSERH tem como principal saldo positivo desmascarar esse projeto privatista.
Ambos os processos também serviram para demonstrar de que lado está a reitoria
e como de fato funcionam os fóruns ‘democráticos’ da universidade. Mostrar novamente
a força da unidade do movimentos de luta quando não temos medo de apontar o
dedo para a raiz dos problemas, de forma independente.
Essa
consciência com certeza serve para que as lutas seguintes tenham mais adesão e
mais força. Mas para a luta contra a EBSERH
avançar é preciso incorporarmos a exigência ao governo Dilma, inserindo
nossa luta local num processo nacional contra esta Empresa e contra o conjunto
das políticas neoliberais que ela se relaciona. A luta contra a EBSERH é a mesma
contra o REUNI e agora mais precisamente contra o PNE de Dilma. É a luta contra
essa lógica neoliberal que segue sendo imposta a nossos direitos básicos tais
como saúde e educação. Nós, juventude do PSTU- BA, queremos construir unidade
de ação com todas(os) lutadores dispostos a fazer a luta avançar! E que ela
avance em direção a defesa da saúde e educação pública, e avance ainda mais, para
construção das lutas diretas por um modelo de sociedade que adote uma outra
lógica, que não a do lucro e exploração: a sociedade socialista.
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