Carlos Zacarias de Sena Júnior*
No segundo turno das eleições de 2012 o PT e o
PC do B não verão a cor do nosso voto. Isso acontecerá em Salvador, onde o PT
de Nelson Pelegrino que tem como vice o PC do B de Olívia Santana, concorrerá
com o DEM de ACM Neto, mas também em outras partes do Brasil, onde o PT e o PC
do B fizeram alianças indiscriminadas com partidos burgueses. Não obstante, na
capital da Bahia, como parece óbvio, ACM Neto também não terá nosso sufrágio no
segundo turno das eleições de 2012. Dispensaria de dizer palavra sobre isto, ou
seja, sobre o porque de não votar no DEM, não fosse pelo fato de que em
Salvador milhares e milhares de trabalhadores farão exatamente isso no próximo
dia 28, ou seja, votarão em ACM Neto, um dos líderes da oposição ao governo
petista no plano nacional e o herdeiro do carlismo no estado.
Na verdade ACM Neto foi sufragado, sobretudo,
por setores do funcionalismo que fizeram a experiência com o PT no governo da
Bahia. Entre estes, encontram-se os professores da educação básica e das
universidades. Sobre os primeiros, o governo de Jaques Wagner promoveu um dos
mais violentos ataques dos últimos tempos. Ao enfrentar uma greve heróica que
se arrastou por 115 dias, o governo petista fomentou calúnias pela imprensa,
não recebeu os trabalhadores e cortou o ponto dos milhares de pais e mães de
família que passaram quatro meses sem receber salários. Para completar,
contratou uma empresa de um ex-professor ao custo de 1,5 milhão de reais com
dispensa de licitação. E como miséria pouca é bobagem, o empresário e
ex-professor, que tem a chancela de um programa na Rede Bahia e na TVE, onde
também é apresentador (na TV estatal tem um contrato de dois milhões de reais),
ao tentar justificar a contratação de professores fura-greve ganhando R$ 250,00
a hora-aula para oferecer “aulões” para o ENEM em plena greve dos docentes, afirmou
que se tratavam de professores de ponta, que não trabalhariam por menos do que lhes
seria pago. Enquanto isso os professores do estado seguiam sem receber os seus
míseros salários cortados pelo governador, ou seja, os R$ 8,40 por hora-aula
para enfrentar turmas super lotadas, escolas precárias, falta de condições de
trabalho e a violência cotidiana que impera em muitos estabelecimentos. O
resultado dessa política, ao lado da morte de sete docentes vitimados por
infarto ou derrame ao longo da greve, foi o ódio visceral da categoria ao
governo petista. Ódio este que hoje se converte em votos para um candidato
típico da burguesia.
Quanto aos docentes das quatro Universidades
Estaduais da Bahia (UEBA) a situação não é muito distinta, já que o governo
petista enfrentou pelo menos três greves da categoria nos últimos seis anos.
Quanto aos métodos do governador Jaques Wagner para os docentes das UEBAs,
estes são exatamente os mesmos: mentiras, falta de negociação, corte de salários
e todo tipo de ameaças aos grevistas. Ainda assim os docentes das Universidades
Estaduais Baianas recentemente iniciaram sua campanha salarial, denunciando o fato
de que o governo Wagner paga o pior salário do Nordeste ao professor
universitário. A campanha agora iniciada, lembra uma outra de 1997, quando
Paulo Souto (PFL) governava a Bahia, apoiado por ACM, pagando o pior salário do
Brasil. As peças da campanha salarial, chamada de “campanha da vergonha”, foram
expostas em out doors em pontos
estratégicos de Salvador e também de Brasília para constranger os governistas
do antigo PFL que pagava na Bahia o pior salário do Brasil aos seus professores
universitários. Muitos não lembram disto, mas convém refrescar a memória quanto
às práticas do PT e do PC do B nos governos que apenas copiam os partidos
burgueses como o DEM (antigo PFL), PSDB e PMDB.
A lista poderia crescer, haja vista que muitas
outras categorias do serviço público estadual da Bahia desenvolveram
mobilizações e enfrentamentos com o governo petista de forma ainda mais intensa
que na época dos governos carlistas. Não obstante, é preciso insistir lembrando
que os tempos do carlismo não eram nem um pouco melhores do que o atual,
considerando que os governos de ACM e de seus aliados sempre pagaram péssimos
salários aos servidores públicos e também trataram com desprezo e truculência
as reivindicações do funcionalismo, fosse no âmbito do estado ou do município.
Sobre o assunto, basta que se mencionem ainda as greves enfrentadas pelos
governos de ACM, Paulo Souto e César Borges no estado o as jornadas de luta dos
servidores municipais que na época do prefeito Antonio Imbassaí, então aliado
do carlismo, percebiam os priores salários do país.
Ainda assim milhares de servidores públicos têm
declarado seu voto no herdeiro do velho coronel e aqui é importante dizer que a
possibilidade de vitória do DEM em Salvador é de responsabilidade exclusiva dos
petistas e pecedobistas que repetiram as políticas dos governos da burguesia
para atacar os trabalhadores e o serviço público no estado. Não ficamos felizes
com a possibilidade de retorno do carlismo ao comando da capital do estado, mas
também não moveremos uma pedra para que o PT e o PC do B ganhem a prefeitura de
Salvador ou de qualquer outra cidade do Brasil no segundo turno das eleições de
2012. Sabemos a diferença entre traidores e inimigos de classe, de maneira que
entre uns e outros não apontamos o que pode ser o mal menor. Em vista disso
chamamos o voto nulo, voto este que se diferencia do voto nulo chamado por
algumas correntes que o fizeram desde o primeiro turno, quando os trabalhadores
tinham alternativas classistas e independentes em muitas cidades.
Queremos afirmar aqui que os trabalhadores
seguirão fazendo suas experiências com os governos petistas e os velhos e
conhecidos governos da burguesia e mesmo que muitos rompam com os traidores
pela direita, outros tantos o farão pela esquerda, e quando fizerem isto, em
Salvador e em outras partes do Brasil, seguirão o exemplo de Natal e Belém, que
elegeram Amanda Gurgel e Cléber Rabelo como vereadores do PSTU nestas cidades.
Quanto aos companheiros que foram eleitos pelo PSOL e pelo PCB, sobretudo
aqueles que se elegeram sem os recursos dos empresários, dizemos da importância
destas eleições que devem se converter em mandatos a ser construídos de maneira
independente da burguesia, sempre ao lado dos trabalhadores. Seremos vigilantes
destes mandatos, porque eles serão as vitrines de experiências e expectativas,
e os servidores públicos de muitas cidades esperam que tais mandatos venham a se
construir como opção. Isto para que, no futuro, os trabalhadores não tenham que
desgraçadamente decidir entre traidores e inimigos de classe.
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