quinta-feira, 19 de março de 2015

Declaração do Direção Estadual do PSTU/BA sobre a participação do PSOL/BA no ato governista


PSOL da Bahia se soma ao ato em defesa do governo Dilma

Nem marchar com a direita, nem dar as mãos ao governo. Precisamos construir um campo de classe independente

Nos últimos dias temos vivenciado um quadro de agravamento da crise política do país. Essa crise é alimentada pela profunda crise econômica internacional que afeta o Brasil fazendo com que os setores dominantes se questionem sobre em qual saída devem apostar para continuar lançando nas costas dos trabalhadores os custos da crise. Desde o ano passado há uma divisão crescente na burguesia brasileira colocando de um lado os que apoiam a manutenção do governo petista da Dilma, do outro os que compraram o projeto da oposição tucana que oferece como saída o impeachment e a conformação de um governo de aliança com o PMDB.

Antes de tudo, e deixando de lado os discursos mais apaixonados que fecham os olhos pra realidade, uma análise objetiva do último ano coloca o governo Dilma e a oposição de direita lado a lado no que diz respeito a defesa dos interesses dos ricos. Estiveram juntos no ataque ao seguro desemprego e as pensões, juntos também estiveram na defesa da PL 4330 da terceirização e, mais recentemente, na entrega do pré-sal e na aprovação da lei anti-terrorismo que já ficou conhecida como a lei anti movimentos sociais por conta de seu caráter criminalizante. Diante da escalada exponencial do desemprego a presidenta Dilma poderia ter aprovado uma medida provisória que protegesse os trabalhadores das demissões mas, preferiu zelar pelo seu compromisso com as montadoras e demais multinacionais deixando trabalhadores entregues a própria sorte. Portanto, não estamos diante de um enfrentamento entre um campo progressivo que defende os trabalhadores e o campo dos patrões. Por isso dizemos se tratar de uma falsa polarização, falsa porque o PSDB e, lamentavelmente, o PT estão em luta pra saber quem vai, estando no poder, seguir aplicando a agenda de ataques aos direitos dos trabalhadores que tanto necessitam os patrões.

Nessa disputa a oposição de direita se colocou na ofensiva cavalgando a onda de indignação por conta dos escândalos de corrupção. A cada momento a operação “Lava-jato” -a mesma que colocou na cadeia donos e executivos das mais importantes empreiteiras do país - tem revelado seu caráter tendencioso e seletivo destacadamente pelo papel do juiz Sérgio Moro que usa de dois pesos e duas medidas engavetando denúncias contra líderes da oposição e publicizando, com apoio da imprensa, os fatos que envolvem os líderes petistas, em especial o ex-presidente Lula. Nós do PSTU não temos nenhuma confiança na justiça dos ricos e seus agentes como Sérgio Moro. Repudiamos a corrupção e temos a certeza de que ela não é patrimônio exclusivo do PT, muito pelo contrário, a oposição de direita esta envolvida até o pescoço. Aécio, Cunha, Temer, Renan, a maioria dos deputados que conformam a comissão do impeachment, os partidos da base aliada do PT e os da oposição de direita, todos sem exceção foram financiados pelas empresas investigadas na lava-jato. Por isso somos contra o impeachment, pois trocar Dilma por Temer não mudará esse quadro. Defendemos o fora todos eles! Por novas eleições gerais sem financiamento privado onde os envolvidos na lava-jato não possam concorrer.

Mas defendemos também que nossa classe deve tomar as ruas e combater ativamente essa falsa polarização. Não fomos a marcha verde-amarela do dia 13 convocada, promovida e financiada pela oposição de direita, por setores patronais como a FIESP, e por movimentos de direita como o Movimento Brasil Livre. Nessas marchas domingueiras não há espaço para as reivindicações de nós trabalhadores, em especial do povo das periferias do Brasil de maioria negra. Por outro lado, acreditamos também que os atos convocados pelo governo representam uma armadilha perigosa para classe trabalhadora. Inflamados por um discurso que estimula o medo do “GOLPE” , os setores do governo convocaram o dia 18 e preparam o 31/03 como atos em defesa da democracia. Na verdade, igualam democracia a uma defesa adesista do governo sem espaço para críticas.

Por isso, julgamos necessária fazermos uma crítica pública e fraterna aos companheiros e companheiras do PSOL da Bahia. A direção desse partido adotou a posição de participar desses atos e construí-los na base convocando sua militância e os movimentos onde atuam. Achamos isso um grave erro. A direção do PSOL da Bahia negligencia a experiência de 2015 onde outros atos com o mesmo caráter foram convocados e insiste em dizer que os atos não são em defesa do governo e é possível disputar o seu caráter. Nada mais falso, os atos convocados pelo governo para hoje e o dia 31, que se dizem em defesa da democracia, não estão abertos a diferenças.

Nesses atos não será possível denunciar a oposição de direita e ao mesmo tempo ter as mãos livres para criticar as medidas do governo. Nesses atos não será possível denunciar a seletividade crescente na condução da operação da Lava-jato por parte do juiz Moro e ao mesmo tempo ter as mãos livres pra falar que todos os corruptos devem ser presos, tanto os da oposição de direita como Aécio e Cunha, quanto as lideranças governistas. E tão pouco poderemos falar nesses atos que a saída pra nossa classe não passa por depositar confianças e muito menos fortalecer o governo Dilma. Perguntamos a direção estadual do PSOL: O que farão nesse ato senão dar as mãos ao governo, aderir ao seu discurso e dizer para a nossa classe que é preciso defendê-lo?

Ainda sobre a bandeira da democracia, vemos como bastante conveniente a forma como os setores ligados ao governo a defendem. Uma vez mais, perguntamos a direção do PSOL Bahia: Irão marchar pela democracia e a favor do governo Dilma ao lado de Rui Costa, o mesmo que parabenizou os PM's “artilheiros” da chacina do Cabula? Onde estava a democracia no caso desses jovens e de tantos outros jovens negros mortos por causa da manutenção por parte do PT dessa política de segurança pública racista? Que democracia é essa que devemos defender ao lado do governo que aprovou a lei anti-terrorismo? Que democracia é essa que devemos defender ao lado do governo que implementa o ajuste fiscal e criminaliza as greves que se colocam como forma de resistência as suas consequências?

Reivindicamos que nesse momento difícil e complexo precisamos mais do que nunca arregaçar as mangas e construir um campo de classe independente do governo, da direita e dos patrões. Não se trata de uma tarefa fácil, mas podemos construí-la apoiada nos exemplos de resistência espalhados nas lutas que ocorrem por todo o país. Precisamos articular essas lutas, coordená-las, fortalecê-las rumo a uma greve geral contra o ajuste fiscal, contra as demissões, contra o governo do PT e a oposição de direita. Encarar essa tarefa é urgente. A direção do PSOL ao optar pelo caminho mais fácil da adesão aos atos pró-governo, contribui para tornar mais difícil uma saída independente da nossa classe.
Nós do PSTU não temos a ilusão de que construiremos essa alternativa independente sozinhos. O universo das lutadoras e lutadores que rechaçam a direita e já não se encontram no campo do governo é, felizmente, mais amplo que nós e que o PSOL. Ele cresce a cada greve que resiste contra as demissões nas fábricas, cresce a cada luta do funcionalismo público contra o desmonte que o setor vem sofrendo, cresce nas lutas estudantis, cresce nas periferias lutando por direito a cidade e resistindo a criminalização e extermínio da juventude negra. É nesse processo real de lutas de resistência que devemos buscar nossos aliados, não no governo que tantas facas nos cravou nas costas.

Chamamos os companheiros e companheiras a reverem sua posição.Reivindicamos como exemplar a posição pública tomada pelo mandato de Hilton Coelho do PSOL, na qual defende “resistir com o povo por uma saída pela esquerda” e consequente com isso rejeita a ideia de dar aos mãos ao governo nos atos de hoje e do dia 31/03. Estamos de acordo Hilton nesse ponto, a única saída que temos é pela esquerda e esta deverá ser construída na luta. Uma luta independente que enfrente a direita e rompa definitivamente todos os laços com o governo do PT que traiu os trabalhadores. Uma luta que ganhe os trabalhadores e trabalhadoras para confiarem em suas próprias forças, acreditarem que são capazes de derrotar o ajuste fiscal, parar as demissões e nesse caminho derrotar também os planos do governo e da direita. Defendemos uma greve geral que sirva como uma saída da classe trabalhadora para essa crise. Defendemos o dia 01 de abril, data definida como um dia de atos e paralisações pelo Espaço de Unidade de ação que reúne a CSP-Conlutas e demais entidades e movimentos do campo classista combativo, como um momento a serviço da construção dessa via independente.

É hora de romper os laços com a experiência de conciliação, alianças e acordos com a direita promovida pelo PT. O momento exige que a esquerda seja capaz de se apresentar de forma independente e classista, como alternativa para uma mudança real para nossa classe.

Direção Estadual do PSTU/BA
Salvador, 18 de março de 2016

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