Renata Mallet, ex-candidata ao governo da Bahia.
Presidente do Diretório municipal do PSTU em Salvador.
Nos últimos dias
tem crescido a expectativa em torno aos atos programados para os dias 13 e 15
de março. Acho mais do que justo o grande interesse que existe entre os
trabalhadores nessa questão afinal, com a presente conjuntura política e
econômica do Brasil é natural que se busque saídas que possam transformar em
ação a indignação com o atual estado das coisas.
O 2015 REAL tem sido muito diferente do 2015
de “faz de conta” que as ditas candidaturas “majoritárias” prometeram nas
eleições de 2014. Desde os primeiros dias de janeiro as medidas implementadas
pelos governos em escala federal, estadual e municipal seguiram um único
sentido: Colocar na conta dos trabalhadores os efeitos da crise econômica
que atinge o Brasil.
Brotaram por todos
os lados aumentos (luz, água, alimentos, gasolina) e temos vivido nesses três
primeiros meses de 2015 um verdadeiro tarifaço. Não satisfeitos com isso,
governos e patrões querem pôr as suas mãos sujas nos nossos direitos
trabalhistas além de nos ameaçar com demissões como no caso da Volks e GM em
São Paulo.
Dilma, que disse
que não mexeria nos direitos trabalhistas nem que a vaca tossisse, agora
promove um duro ataque com as MP’s 664 e 665 que golpeiam o seguro desemprego e
o direito a pensão. No último domingo em seu programa de TV defendeu o ajuste
fiscal e pediu paciência aos trabalhadores. O governo do PT quer que nós
trabalhadores “apertemos nossos cintos” e aceitemos os ataques as nossas
condições de vida para que os grandes empresários mantenham intactas suas
fortunas. Com toda razão os milhões de trabalhadores que votaram na Dilma agora
se sentem traídos pois, o programa que a presidente aplica segue a mesma
cartilha neoliberal do tucano Aécio Neves.
Justamente por
isso engana-se quem pensa que com Aécio seria diferente. O governo de Alckmin
em São Paulo é um exemplo vivo de que um mandato tucano de nada poderia servir
para os trabalhadores. Conhecemos o histórico de privatizações e ataques do PSDB, sabemos quais
setores da sociedade eles defendem, me parece mais do que justo não depositar
um único centavo de confiança neste partido. A escandalosa rede de corrupção
que veio a tona com a operação lava-jato por exemplo, se iniciou na era FHC que
no comando da presidência deu pontapé inicial na privatização da Petrobrás. O
PT de Dilma e Lula ao invés de combater essa prática deu continuidade a farra
das empreiteiras se atolando na mesma lama podre da corrupção.
O PSDB e a direita
tradicional brasileira não são nossos aliados. Pelo contrário, seus interesses
são os mesmos dos patrões e o seu programa para crise econômica também vai no
sentido do ajuste fiscal e da caça de direitos trabalhistas. Por estarem na
oposição tentam de modo oportunista capitalizar o desgaste do governo e
indiretamente dão corda as campanhas pelo impeachment de Dilma nas redes
sociais, além de terem declarado apoio aos atos marcados para o dia 15.
O desejo dos
trabalhadores por lutar contra os ataques dos governos, em especial contra as
MP’s e o ajuste fiscal impostos por Dilma, é algo de muito progressivo e deve
ser potencializado. Mas essa luta deve ser feita com nossas próprias armas. O
impeachment é uma saída que coloca a tarefa de derrotar o governo nas mãos do
Congresso, o mesmo Congresso atolado na corrupção da Lava-jato. Além do mais,
na hipótese do impeachment ser levado a cabo quem assumiria o governo seria
Temer e o PMDB. O partido de Renan e Eduardo Cunha indiciados no escândalo da
Petrobrás.
As medidas e o
plano econômico do governo deve ser derrotado pela classe trabalhadora em luta.
Com atos de rua, greves e muita mobilização pela base. Os métodos de luta, as
bandeiras e as necessidades dos trabalhadores são bem diferentes da turma que
fez “panelaço” nas varandas dos condomínios de luxo no domingo passado. Tão
pouco devemos fazer coro as vozes que clamam pelo retorno dos militares. As
forças armadas promoveram durante os 20 anos do regime militar uma coleção de
atrocidades contra o povo e a classe trabalhadora. Por isso defendo que é um
erro participar do dia 15.
Por outro lado, no
dia 13, diversas Centrais sindicais e organizações políticas promoverão ações
que vão no sentido de evitar que o desgaste gerado pelos ataques abale ainda
mais a base social do governo no interior do movimento de massas. No momento
onde os trabalhadores sentem a necessidade de lutar para defender seus
empregos, seus direitos, melhores condições de vida, essas Centrais tentam mais
uma vez nos convencer que o mesmo governo que promove os ataques pode ser um
aliado dos trabalhadores.
Se Dilma e o PT
são aliados por que ao invés das medidas provisórias que atacam o seguro desemprego
Dilma não editou uma medida provisória que proibisse as demissões em massa? Por
que ao invés de cortar 7 bilhões de reais da educação Dilma não suspendeu o
pagamento da dívida aos banqueiros que consome 40% do orçamento da União?
Se o dia 15 é um erro
porque os trabalhadores não podem confundir suas bandeiras com a da direita e
tão pouco ver Aécio e o PSDB como
aliados, o que fortaleceria a alternativa burguesa para crise, também não é
possível sairmos vitoriosos de uma luta quando não se tem clareza de quem é o
inimigo. Nesse momento é o governo Dilma quem está promovendo duros ataques,
portanto a luta contra esses ataques exige que estejamos num campo independente
do governo. As organizações que promovem o dia 13(CUT, UNE, MST, CTB, Consulta Popular)
cometem um grave erro ao tentar conciliar a necessária luta contra os ataques
do governo ao apoio que insistem em depositar no governo Dilma.
Reivindico como
importante a iniciativa da CSP-Conlutas e uma série de sindicatos e
organizações que realizaram no último dia 06 um dia nacional de atos e
paralisações. A única certeza que os trabalhadores devem ter nesse momento é a
necessidade de lutar. Para isso cabe aos movimentos sociais se organizarem de
modo independente da direita e do governo em prol de um calendário de
mobilização com atos, paralisações, greves, debates, tendo como alvo a luta
contra o ajuste fiscal, a revogação das MP’s e a defesa dos empregos. Não
devemos medir esforços pra defender nossos direitos, porque não articular um
calendário de mobilização onde a realização de uma greve geral seja parte? A
experiência da GM de São José dos Campos onde a greve fez a empresa recuar das
demissões ou, a greve da educação do Paraná com ocupação do prédio da Assembleia
Legislativa são exemplos valiosos.
As organizações
que promovem o dia 13 também serão chamadas a esse compromisso. É chegada a
hora de tomarem uma decisão. Vão continuar agindo como bombeiros do governo ou,
vão colocar toda sua energia a serviço da luta num campo classista e
independente contra os ataques do governo e ameaça de crescimento da
alternativa da direita?
Sigo acreditando que apenas trilhando um
caminho á esquerda dos governos e patrões poderemos defender verdadeiramente os
interesses da classe trabalhadora. A experiência petista de governar em aliança
com os patrões está ruindo diante de nossos olhos e a melhor maneira de evitar
o crescimento da direita é construindo um campo independente dos trabalhadores.
Pra não deixar que o peso da crise caia nos nossos ombros precisamos de um
governo dos trabalhadores sem patrões, que garanta o pleno emprego, que
suspenda o pagamento da dívida “eterna” e coloque os recursos do país a serviço
do povo.
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