Aruska Almeida.
Outubro
está se despedindo e com ele se encerra uma importante campanha
travada em diversos países pela saúde da mulher: O outubro rosa.
Este movimento surgido nos Estados Unidos na última década do
século XX, reunia diversas ações isoladas nos seus estados contra
o câncer de mama. Estas ações pretendiam gerar uma conscientização
maior da população feminina acerca da prevenção e riscos da
doença, estimulando os métodos para o diagnóstico precoce da
doença, o que aumenta consideravelmente as chances de cura.
Os
métodos de sensibilização envolviam enfeitar os locais públicos
das cidades com laços rosas, promover desfiles e uma série de
atividades que chamassem a atenção das pessoas para o tema. A
iluminação rosa de monumentos e locais que chamam atenção nas
cidades é considerada a marca de que a campanha é global e pode ser
entendida em todos os lugares do mundo.
No
Brasil, também são realizadas ações pela campanha, que envolvem
desde as medidas tradicionais até mutirões de mamografia. Apesar de
importante iniciativa, esta ação de maneira isolada não resolve o
problema da saúde da mulher, que está longe de ser algo para tratar
em um único mês do ano.
Após 10 anos de PT, a saúde da mulher melhorou?
A
saúde pública está completamente sucateada e isso já não é
novidade. Uma das muitas pautas históricas que as lutas de junho
reviveram foi a da saúde pública, gratuita e de qualidade. Algumas
medidas como o programa Mais Médicos são propagandeadas pelo
governo como grandes resoluções para um problema que só se arrasta
gestão após gestão. O PT vem fazendo história ao seguir fielmente
o programa e as políticas outrora aplicadas pelos Tucanos e pelo
DEM. A saúde pública e as mulheres que dependem dela são as
maiores prejudicadas.
O
cenário não é nada bonito, o contraste entre a realidade de um
lado e as propagandas do governo de outro é gritante, a saúde da
mulher não logrou melhora qualitativa virando uma questão ainda
mais delicada. Ao precisar de atendimento diferenciado e específico,
as dificuldades no acesso aos serviços adequados e resolutivos fazem
com que muitas mulheres padeçam de doenças que poderiam ser
evitadas e curadas, se tratadas a tempo. Muitas sequer conhecem os
riscos aos quais estão submetidas, excluídas de quaisquer campanha
de prevenção ou tratamento de certas doenças. Para elas, só
restam as intermináveis filas que as levarão para os corredores de
hospitais cada vez mais cheios e menos preparados.
O
SUS não está preparado para atender todas as demandas que as
mulheres apresentam. Apesar de haver discussões sobre o tema da
mulher por parte dos profissionais, pouco se avança em termos de
melhoria geral do atendimento, visto que falta infraestrutura e
investimentos na saúde pública.
Quando
se é mulher e lésbica, a situação torna-se mais trágica. Não
existe nenhuma orientação específica aos profissionais acerca do
atendimento diferenciado para estas mulheres nem condições para o
mesmo. Isso ocorre principalmente pela invisibilidade da sexualidade
feminina, ainda muito forte. As mulheres lésbicas sofrem as
consequências da opressão em todos os âmbitos de sua vida e nos
locais de saúde, a situação não muda. São constrangidas e
submetidas a situações que as deixam desconfortáveis, pois não
existe uma preocupação de formar profissionais que compreendam a
homossexualidade e as incorporem no tratamento que dispensam a estas
mulheres.
A
situação das mulheres negras também é bastante cruel. As mulheres
brancas e as mulheres negras apresentam diferenças consideráveis em
termos de saúde, tanto no acesso quanto no próprio atendimento.
Submetidas à ideologia nefasta do machismo e racismo ao longo de
toda sua história, veem sua sexualidade e saúde sempre como algo
que não lhes pertence. Antes de nascer, já recebem o título de
“parideiras” e o direito ao seu corpo, roubado. São elas as mais
expostas às doenças sexualmente transmissíveis e as que mais
encontram dificuldades para acessar os serviços mais básicos de
saúde. As mulheres negras são
as mais vulneráveis aos estupros, ao diabetes mellitus, hipertensão
e anemia falciforme; o maior público nas unidades do SUS são de
mulheres, sobretudo negras; são elas que conformam a maior parte da
população que sofre com os problemas estruturais do SUS,
Ao
invés de aumentar os investimentos na saúde, que promoveriam
mudanças reais na realidade das mulheres brasileiras, o governo
prefere apoiar-se em programas como o Rede Cegonha e o Estatuto do
nascituro (apelidado pelo movimento feminista de Bolsa Estupro),
verdadeiros ataques aos direitos conquistados pela luta histórica do
movimento feminista, e que criminaliza as mulheres tornando o aborto
um crime hediondo e retirando o direito ao aborto legal em caso de
estupro e risco de morte, ao mesmo tempo em que dá ao
estuprador direitos sobre a criança que nasceria decorrente do
estupro,
reafirmando a ideia de que somos seres meramente reprodutoras,
escolhendo isso ou não.
Seria
cômico se não fosse trágico que essa realidade seja mantida pelo
governo de um partido que em seu passado levantava bandeiras como a
da legalização do aborto e teve sua militância envolvida com as
mulheres trabalhadoras. A
realidade é que a saúde da mulher não melhorou no governo de uma
mulher. Ao passo em que Dilma vem entregando as riquezas do país de
mão beijada ao Imperialismo e aplicando a cartilha neoliberal que
aprendeu com FHC e Lula, a presidenta mostra de que lado está. As
mulheres trabalhadoras continuam a padecer sem acesso algum a um
sistema de saúde digno. O mínimo é negado todos os dias a nós
trabalhadoras por um governo que, ao invés de explorar as riquezas
naturais do país como o pré-sal e revertê-las para saúde e
educação, as entrega de mão beijada para o capital estrangeiro,
como o caso do leilão do campo de Libra.
É preciso lutar por um programa para as mulheres trabalhadoras
Iniciativas
como o outubro rosa são importantes pois reacendem debates
fundamentais na sociedade, como um alerta aos riscos a que estamos
submetidas e a necessidade da prevenção. Contudo, se perdem
enquanto ações isoladas, pois devem fazer parte de um processo
maior de conscientização, a de que é necessário uma reformulação
total do programa de saúde brasileiro e mundial, que esteja a
serviço da necessidade dos trabalhadores e por eles controlado.
O
quadro da saúde da mulher hoje assusta e nos coloca um
questionamento: como no governo de uma mulher a situação das
trabalhadoras só piora? A resposta pode ser encontrada em todos os
discursos que a presidenta vem dando nos meios de comunicação e nas
políticas que tem aplicado: ela governa para os ricos, para os
empresários da saúde que lucram de maneira absurda em cima da
calamidade social.
É
preciso tomar para nós trabalhadoras a tarefa de enfrentar este
governo que não é nosso e que em nada nos beneficia. Que tem
criminalizado e enfrentado de maneira truculenta as lutadoras e
lutadores de junho que vão às ruas para construir um futuro melhor,
mais digno e mais saudável para os trabalhadores e a juventude.
É
preciso lutar por outubros rosas que durem todo o ano. Por uma saúde
digna, pública e de qualidade para as mulheres e homens
trabalhadores. Por um mundo em que nosso corpo seja respeitado e onde
a escolha sobre ele seja nossa. É preciso lutar por um mundo
verdadeiramente saudável, um mundo socialista.
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