Declaração da direção estadual do PSTU.
Terça-feira, 10 de setembro, ainda
estávamos nas primeiras horas da manhã quando o MST-BA realizava
mais um ato em defesa da reforma agrária e contra a violência no
campo. Como parte da manifestação, foi deliberada a ocupação da
Secretaria de Segurança pública que tem sido omissa na investigação
dos casos de homicídios de ativistas como Fábio Santos Silva,
dirigente do MST morto com 15 tiros próximo a cidade de Iguaí no
interior do estado. A mesma secretaria que legitima a prisão de
manifestantes em atos como o do último 07 de setembro (ao todo 50
prisões) fecha os olhos para os assassinatos de ativistas que lutam
pela reforma agrária em todo o interior da Bahia.
Foi aí que um fato inusitado e absurdo
ocorreu. O Subsecretário Ary Pereira sacou uma arma e disparou três
tiros contra os manifestantes no que foi segundo o próprio “uma
ação defensiva com o objetivo de evitar violência e preservar a
integridade dos servidores”. De tão absurdo o fato virou
noticia e tornou-se manchete dos principais veículos de comunicação
do Brasil. Para complementar o circo dos horrores o Secretário de
Segurança Pública Maurício Barbosa e o próprio governador Jaques
Wagner/PT foram a público defender a atitude do subsecretário. Em
entrevista à uma rádio baiana Wagner disse “As pessoas não
podem confundir a democracia com baderna” e completou “Daqui
a pouco um integrante do movimento ia estar sentado, só me faltava
essa, na cadeira do secretário”.
A mão que afaga os ricos...
Na mesma entrevista em que defendeu o
seu funcionário Wagner se fez de desentendido ao dizer que “não
houve motivo nenhum para que as pessoas tivessem tentado fazer um ato
daquela natureza.” Tal declaração é um retrato do enorme
abismo que há entre o PT e as reivindicações dos movimentos
sociais e dos anseios do conjunto da classe trabalhadora. Eleito
sucessivamente em 2006 e 2010 graças aos votos de milhões de
trabalhadores Wagner optou por governar para um punhado de
latifundiários, oligarcas e empresários. Para esta minoria
privilegiada os 7 anos de PT na Bahia tem proporcionando altos lucros
e largos sorrisos estampados em suas caras de pau.
O entusiasticamente celebrado
crescimento econômico do estado esta longe de proporcionar uma
melhora nos indicadores sociais. A política econômica de Wagner é
pautada por um desenvolvimento nos
marcos de uma entrega das riquezas do estado ao setor privado. Wagner
loteou a Bahia ao empresariado e o reflexo disso pode-se perceber na
privatização das estradas e no avanço do controle das
multinacionais em setores como a mineração, a agropecuária e o
setor petroquímico e automotivo.
O
outro lado da moeda são os indicadores sociais. A Bahia é líder
nacional de rankings nada honrosos como analfabetismo, déficit de
moradias, violência e desemprego. É como se existissem duas Bahias;
uma é a dos ricos e das propagandas do governo, a outra é a Bahia
real, cada vez mais desigual e com a grande maioria da população
vendo suas condições de vida descendo ladeira abaixo.
...é a mesma que reprime os trabalhadores
Os
anos de chumbo do Carlismo ainda proporcionam um frio na espinha de
quem viveu sob o regime do Coronel ACM. Porém infelizmente, de 2007
pra cá a Bahia ganhou um novo “cabeça branca” dessa vez chamado
Jaques Wagner que incorporou ao seu governo o mesmo repertório
carlista no trato com os movimentos sociais.
Ainda
em 2007, nos primeiros meses de governo, mandou prender dirigentes da
APLB( sindicato dos professores da educação básica), daí por
diante seguiu com as portas do gabinete da governadoria fechadas para
o diálogo com os trabalhadores, mesma orientação adotada pela
Assembleia legislativa que não fez outra coisa senão referendar os
inúmeros ataques de Wagner ao funcionalismo. No ano passado diante
das greves da PM e dos professores da rede estadual Wagner foi
implacável. Recusou diálogo , rejeitou as propostas dos movimentos
e impôs por meio da força o final de ambas as greves.
No
caso da PM contou com o apoio de Dilma que mandou para a Bahia
destacamentos do exército e da força nacional de segurança; já em
relação a greve da educação o governador petista impôs 5 meses
de salários cortados, contratou professores substitutos, demitiu
lideranças, e uma série de outras iniciativas todas voltadas para
derrotar o movimento.
O
desempenho do governo petista no “enfrentamento” aos movimentos
sociais faria o nada saudoso ACM sentir inveja. O PT que nos anos 80
forjou-se nas lutas dos trabalhadores que derrubaram a então
moribunda Ditadura já não existe mais. Talvez exista apenas na
lembrança dos milhares de ativistas honestos que participaram de sua
fundaram e viveram os seus primeiros anos. Na prática a dura
realidade nos mostra que o PT de hoje governa para os ricos e com os
ricos, aliou-se aos figurões da direita tradicional como Sarney,
Renan e até Maluf, e aqui na Bahia se juntou aos ilustres
“ex-carlistas” Otto Alencar e César Borges. Por isso agora dá
aos movimentos sociais o mesmo tratamento dado outrora por governos
como o de FHC e ACM.
É por
isso que Wagner apoiou a atitude do Subsecretário Ary Pereira.
Wagner e o PT agem conforme a mesma lógica de seus aliados
burgueses, a lógica que diz que vale tudo para preservar a ordem.
Vale prender manifestante, vale marchar com a cavalaria da PM sobre
manifestação em defesa do passe livre, vale entrar com viaturas nos
bairros populares e assassinar jovens negros, vale cortar salários,
criminalizar greves, perseguir lideranças grevistas, e vale até
mesmo, porquê não?, disparar na direção de integrantes do MST que
foram até a Secretaria de segurança pública reivindicar
investigação e punição aos responsáveis pela violência no
campo.
A
postura de Wagner diante desse caso em nada nos surpreende. Mais do
que isso, trata-se de mais um triste exemplo de um governo que
transformou os sonhos de mudança de milhões de trabalhadores em
pesadelo. A militância petista que ainda hoje reproduz a ideia do
governo em disputa se calou mais uma vez. As centrais também nada
disseram, CUT e CTB, as duas maiores centrais do estado fizeram
fervorosa campanha para Wagner e a cada luta que eclode esforçam-se
para evitar que se choquem com o governo. Diante de mais essa
traição, de mais esse atestado inequívoco de um governo que voltou
as costas para os trabalhadores devem essas Centrais decidir se estão
com os trabalhadores ou seguirão com Wagner.
Nos
solidarizamos com os ativistas do MST e os inúmeros outros lutadores
do campo e da cidade que se enfrentam com a criminalização.
Exigimos de Wagner a imediata exoneração de Ary Pereira e também
do secretário Maurício Barbosa gestor de uma política de segurança
pública que tem produzido um verdadeiro genocídio ao povo negro e
pobre da Bahia. Exigimos também celeridade na investigação e
prisão dos responsáveis pelos assassinatos de ativistas do campo
como Fábio Silva.
Abaixo
a criminalização dos movimentos sociais!
Exoneração
imediata de Ary Pereira e Maurício Barbosa!
Investigação
e prisão dos responsáveis pelos assassinatos dos lutadores do
campo!
Expropriação
dos latifúndios sem indenização aos latifundiários!
Por
uma reforma agrária controlada pelos trabalhadores!
Direção Estadual do PSTU.
Salvador, 12 de setembro de 2012.
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