Gabriela Mota,
Juventude do PSTU/Bahia.
Já se passou um mês das eleições presidenciais mais polarizadas desde 1989.
A vitória apertada do governo Dilma/PT anuncia um cenário de maior polarização
e enfrentamentos políticos no próximo período. O cenário econômico é cada vez
mais instável. O FMI e o “mercado financeiro” já apresentaram ao governo suas
pautas econômicas: ajuste fiscal e corte nos gastos sociais. Essa será a tônica
do próximo período. O governo Dilma já está dando claros sinais de que lado vai
estar. Nessas eleições o povo queria mudanças para melhor, no entanto o governo
vem dando demonstrações de que a politica econômica vai seguir a mesma, o que
significa menos dinheiro para saúde, educação, reforma agraria etc. Alguns
analistas já preveem um corte de 100 bilhões de reais do orçamento. Novamente os
milhões de trabalhadores que votaram no PT para evitar a volta da direita não
terão suas reivindicações atendidas.
Para onde vai o governo DILMA?
A tão propagada guinada à esquerda do governo não saiu do papel, como
imaginavam algumas correntes politicas, como a CONSULTA POPULAR e o MST.
Terminada as eleições o governo tem feito demonstrações claras do que será o
segundo mandato da Dilma. As primeiras medidas do governo vão no sentido
contrário ao que esperavam os trabalhadores, a juventude e os movimentos
sociais. A provável indicação de representantes dos banqueiros e do agronegócio
nos ministérios da fazenda e da agricultura foi um grande balde de água fria
naqueles setores que acreditavam em uma possível guinada à esquerda governo.
Os escândalos de corrupção na PETROBRAS, o aumento do preço da gasolina
e as possíveis nomeações de Joaquim Lewy para o ministério da Fazenda e de
Katia Abreu a pasta da Agricultura, ambos representantes do grande capital
financeiro e do agronegócio, demonstram o que esperar do próximo governo Dilma.
A decepção em alguns setores da sociedade já é visível.
Tudo para o agronegócio, migalhas
para reforma agraria!
São sintomáticas as declarações
do colunista da Veja, Ricardo Azevedo, um claro representante da direita reacionária
no Brasil, onde faz elogios ao governo Dilma pela indicação da senadora e representante
do agronegócio, Katia Abreu. Para Azevedo “na área do agronegócio, propriamente
o governo se comportou bem”. A indicação de Katia Abreu provocou a ira e a indignação
dos movimentos sociais, em particular do MST e sectores do PT. Nessa semana
cerca de 2000 jovens ligados ao MST ocuparam uma fazenda que cultiva milho transgênico
com o objetivo de “denunciar o modelo do agronegócio, defendido amplamente pela
bancada ruralista, e que tem a senadora Katia Abreu como referencia politica” (Nota
no site do MST “Juventude ocupa fazenda de milho transgênico no Rio Grande do Sul”,
22 de novembro de 2014.).
É justa a indignação e o rechaço contra a indicação de Katia Abreu, no
entanto é necessário ir além. Não basta
apenas questionar uma figura, mas o conjunto da politica econômica que os
governos Lula e Dilma vêm aplicando no país desde 2003. Lamentavelmente o
governo fez sua opção de governar com os setores mais reacionários e
retrógrados da politica brasileira, como Collor, Sarney, Katia Abreu etc. O
próprio Lula havia indicado o presidente do Bank Of Boston, Henrique Meireles,
para assumir o Banco Central e o representante do agronegócio, Roberto
Rodriguez para assumir o ministério da agricultura. Os banqueiros, o
agronegócio e as construtoras foram os maiores beneficiários dos 12 anos de
governo do PT. Enquanto isso, a tão esperada reforma agraria não saiu do papel
e Dilma vai entrar para historia como um dos governos que menos assentou
famílias.
Dilma, Cadê a Reforma agraria?
O membro da coordenação nacional do MST, Alexandre Conceição, denunciou
que “o governo Dilma foi o pior para reforma agraria. Assentou pouco, ou quase
nada, e foi tomado pelo agronegócio, a quem se aliou” (MST diz que governo
Dilma foi o pior para reforma Agraria, O GLOBO, 04/02/2014). Existem
aproximadamente 200 mil famílias acampadas nas beiras das estradas a espera de
um pedaço de terra. Essa realidade contrasta com os inúmeros benefícios
concedidos pelo governo aos latifundiários e ao agronegócio no país.
Não basta ser contra Katia Abreu!
É preciso retomar o caminho da luta pela reforma agraria.
O recente manifesto assinado por intelectuais e organizações politicas
(o MST, a Consulta Popular/Levante Popular da Juventude e membros do PT)
denuncia que “os rumores de indicação de Joaquim Levy e Kátia
Abreu para o Ministério sinalizam uma regressão da agenda vitoriosa nas urnas.
Ambos são conhecidos pela solução conservadora e excludente do problema fiscal
e pela defesa sistemática dos latifundiários contra o meio ambiente e os
direitos de trabalhadores e comunidades indígenas”.
No entanto é preciso ser consequentes na critica e no enfrentamento. Não
podemos gerar ilusões e amarrar o conjunto dos movimentos sociais ao governo
com o discurso de que estamos frente a um governo em disputa. A opção do
governo e do PT é muito clara. Por isso não basta apenas ser contra a indicação
de Katia Abreu. Esse é apenas o primeiro passo, é preciso que a esquerda
socialista, os movimentos sociais, a juventude construa uma grande campanha
nacional de denuncia da politica econômica do governo que beneficia os
banqueiros e o agronegócio. Para ser consequentes é preciso que as direções do
MST e da Consulta Popular rompam com o governo Dilma e retomem o caminho da
luta e da mobilização direta, como fizeram outrora contra os governos do PSDB. Infelizmente
não é isso o que veem demonstrado as direções dessas organizações. Se
o governo mantiver essas indicações, qual será a postura do MST e da Consulta
Popular?
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