Josias Neto, da juventude do PSTU-BA
A UFBA, historicamente pensada para os filhos das elites baianas, nunca foi um lugar fácil para aqueles estudantes que precisam pegar ônibus pra ir e voltar da aula, sair de um campus pra outro, se alimentar dentro da universidade e arrumar uma bolsa ou estágio ou mesmo trabalho pra se manter. Quem estuda à noite soma todas essas dificuldades ao sério problema da violência. O curso de Serviço Social, por exemplo, é um dos cursos novos da UFBA, sendo majoritariamente feminino inclusive, tem aulas até altas horas da noite num prédio em local deserto, sem iluminação, distante de qualquer ponto de ônibus, enfrentando o medo todos os dias ao sair da aula.
Em 2008 ouve um caso lamentável de violência sexual a uma estudante, durante o dia, no campus do curso de Dança em Ondina. Quatro anos depois, a insegurança continua: mês passado, dia 13, uma professora um grupo de alunas sofreram assédio sexual de um homem, que chegou ao ponto de se masturbar na frente delas no ponto de ônibus no campus de Ondina e no outro dia ameaçou-as. Indignadas com o ocorrido estudantes e professoras fizeram um apitaço no dia último dia 22, para protestar e exigir providências.
Em meio a esta situação a reitoria da UFBA se reuniu com o comando da PM na última quinta, dia 5. O ME da UFBA se surpreendeu ao ver notícias nos jornais fazendo referência à possibilidade da PM na Universidade. Em que pese a reitoria declarar que está solicitando da Policia aumento da segurança apenas no entorno dos campi, de acordo com uma das próprias reivindicações do movimento é necessário estar muito atento a esta movimentação da universidade e exigir que outras providências sejam tomadas.
A universidade é um dos espaços onde se organiza um importante movimento social que já participou de inúmeras lutas pela transformação da realidade social: o movimento estudantil. A relação da Polícia e demais instituições Militares e de Forças Armadas com o conjunto dos movimentos sociais sempre foi nefasta. Recentemente a PM reprimiu, estuprou e matou moradores pobres do Pinheirinho, maior assentamento urbano da America Latina, numa injusta desapropriação. Não está sendo diferente com o Quilombo Rio dos Macacos aqui na Região Metropolitana de Salvador, onde a Marinha impõe medo a população negra que ali reside historicamente. Também não foi diferente na USP, onde a policia militar foi colocada no campus pelo Reitor e acobertada pelas distorções da grande mídia, que utilizando-se por exemplo da criminalização do uso das drogas tentou colocar a população a favor da invasão policial. Na USP a PM bateu em estudante negro, estuprou uma jovem e reprimiu brutalmente a organização dos estudantes. Contra uma ocupação de estudantes o Reitor e a PM mobilizou mais de 400 policiais da tropa de choque, dezenas de outros de cavalaria, caminhões e até helicópteros, para prender 72 estudantes do movimento. Com a desculpa de uma medida contra a violência a USP foi completamente sitiada pela polícia num ato que lembrou duros anos da ditadura militar.
Queremos segurança sim nas nossas universidades, pois queremos que aqueles que lá chegaram com tanto esforço, especialmente os ainda pouquíssimos moradores das periferias, filhos e filhas da classe trabalhadora, possam estudar sem medo. Mas o que queremos é que a Reitora amplie a iluminação e de imediato aumente do efetivo de seguranças dos campi, o horário do fechamento dos portões etc. Isso claro não basta, já que a segurança que temos hoje na UFBA, e maioria das universidades, é patrimonial. Queremos uma Guarda Universitária, com trabalhadores concursados, controlada por fóruns democráticos dos próprios estudantes, funcionários e professores. A função de guarda universitário foi extinta no governo de Fernando Henrique Cardoso, por isso é necessário que Dilma reveja essa medida tomando providencias para que essa função volte a existir. Enquanto isso, se estiver de fato comprometida com a segurança da comunidade acadêmica a reitora Dora poderia implementar a guarda universitária em caráter provisório em toda UFBA utilizando os recursos da Universidade.
Não são só os Movimentos Sociais e estudantes que sofrem com a repressão policial. Nas periferias de Salvador negros e negras sentem na pele que ter policia na rua não é necessariamente sinal de segurança, muitas vezes é sinal de medo. Não estamos com isso colocando a responsabilidade sobre os policiais simplesmente. É importante considerar que muitos destes policiais são recrutados nos seio da própria classe trabalhadora, com sua origem nas periferias. O problema não está nos indivíduos que compõem as corporações, mas na forma como se constituem as instituições e como elas são colocadas contra a população e a favor apenas dos interesses dos ricos (como aconteceu no Pinheirinho, onde os mega especulador Naji Nahas foi o grande beneficiado com a desocupação violenta executada pela política).
É necessário uma outra polícia e uma outra política de segurança para garantir uma verdadeira proteção à classe trabalhadora e aos estudantes. O governo precisa dar melhores condições aos trabalhadores da segurança, para acabar com a corrupção dentro das corporações. Precisa desmilitarizar, unificar e democratizar as polícias, para que elas deixem de estar a serviços dos interesses dos ricos e de fato se volte à proteção da população. A hierarquia antidemocrática das polícias e sua disciplina de obediência cega fazem dela um instrumento dos capitalistas, que com seu dinheiro, no fundo é quem as controlam através do Estado.
Aqui na Bahia Wagner poderia ter se apoiado na recente mobilização dos PM’s para começar a transformar o que é hoje a política de segurança do estado. Dilma poderia aproveitar o apoio que tem da população para enfrentar as elites com o intuito de democratizar as polícias e unificá-las, desmilitarizando-as. Hoje, com a atual política de segurança, não podemos nos dar por atendidos por um acordo entre a Reitoria e a PM para reforçar o policiamento no entorno dos campi. Temos que exigir dela que de fato implemente o plano de segurança na UFBA, construído com os estudantes funcionários e professores; um plano de transporte interno e funcionamento pleno da universidade no turno noturno.
Mais que isso, esse não é um problema só da nossa Universidade. A prefeitura de salvador precisa garantir um transporte eficiente no período da noite, Dilma tem que aprovar e implementar a Guarda Universitária nas Instituições de Ensino. Temos também que exigir de Wagner uma outra política de segurança para o Estado.
Nós, juventude do PSTU, defendemos que os diversos estudantes: negros, mulheres, LGBT’s, moradores da periferia... possam estudar sem medo na UFBA. Mas defendemos também que eles possam não apenas estar aqui para se tornarem profissionais enquanto a sociedade segue com as desigualdades e injustiças que temos hoje, queremos que na universidade eles encontrem também o caminho da luta, que se tornem batalhadores por uma outra sociedade: a sociedade socialista, e por isso não queremos a repressão na nossa universidade.
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