Filiação de
Vice-prefeita é uma adesão a gestão que vem privatizando a capital baiana
Por Jean
Montezuma, da Direção estadual do PSTU
No
último mês de agosto o PPL anunciou o ingresso nas suas fileiras de Célia
Sacramento, vice-prefeita de Salvador, que estava sem partido desde sua saída
do PV. Dias depois a filiação de Célia foi celebrada numa reunião com Marcelo
Barreto, da direção do Partido Pátria Livre na Bahia, e o prefeito ACM Neto
(DEM), que na ocasião deu a sua “benção” a migração de Célia para o PPL abrindo
as portas de sua administração para este partido.
Esse
episódio, que poderia passar desapercebido como mais um exemplo do troca-troca
de legendas comum na política brasileira, torna-se uma excelente oportunidade
para explicitarmos um pouco das nossas diferenças com o PPL partindo de um
exemplo concreto. Isso se faz necessário porque, especialmente em política,
mover-se apenas pelas aparências é um grave erro.
O
fato do PPL se projetar como oposição ao governo Dilma, as medidas do ajuste
fiscal e de também negar Aécio Neves como uma saída para crise, não nos torna
iguais e muito menos anula as diferenças que existem entre este partido e nós
do PSTU, que reivindicamos uma saída classista que supere a polarização governo
versus oposição de direita e coloque em seu lugar uma alternativa de poder dos
trabalhadores.
A filiação de Célia
Sacramento e o ingresso do PPL no governo ACM Neto é um grave erro
ACM
Neto é herdeiro de uma tradição política que sempre se pautou pelo atendimento
aos interesses dos ricos e poderosos em detrimento das condições de vida da
maioria do povo. A sua administração vem se desenvolvendo seguindo um
direcionamento muito bem definido, a saber, a privatização da cidade de modo
que Salvador possa melhor atender aos interesses do mesmo punhado de privilegiados
de sempre.
Frente
aos principais problemas da cidade as saídas de ACM Neto passam longe sequer de
promover uma diminuição da profunda desigualdade que recorta nossa capital. No
tema da mobilidade urbana ACM Neto não só manteve a máfia do SETPS, como
renovou essa usurpação de nosso direito ao transporte por mais 25 anos! Os anos
de serviços mal prestados a população, arrocho salarial e péssimas condições de
trabalho para os rodoviários, foram presenteados por ACM Neto com um novo
contrato de concessão, que ainda por cima garante ao SETPS o direito de
aumentar anualmente a tarifa do transporte.
No
primeiro semestre, quando as chuvas trouxeram à tona o drama das encostas, ACM
Neto se omitiu de qualquer responsabilidade e, não satisfeito, usou as chuvas
como desculpa por pôr em movimento seu plano de derrubar casarões antigos do
centro expulsando seus moradores, negros e trabalhadores, para dar lugar a
especulação imobiliária. Perguntamos ao PPL, onde estava a vice-prefeita Célia
Sacramento nesse momento? Onde estava a vice-prefeita Célia quando ACM Neto
investiu milhões na reforma da orla da Barra ao mesmo tempo que alegava não ter
dinheiro para construir creches e demais intervenções na periferia de Salvador?
Qual a opinião da vice-prefeita Célia sobre o novo “paisagismo” que a
prefeitura esta promovendo nos viadutos próximos aos “roteiros turísticos” da
cidade, onde cactos estão sendo colocados para evitar que moradores de rua ali
se instalem?
Diante
dessas e inúmeras outras questões acerca da gestão de ACM Neto, teríamos como
resposta de Célia Sacramento apenas o consentimento agregado de alguma
justificativa para tentar camuflar o óbivio: a prefeitura de ACM Neto, e também
dela, se pauta de um lado, pela privatização da cidade, do outro, por uma
faxina ética voltada contra os negros e negras e o povo pobre de nossa cidade.
Então perguntamos ao PPL, qual sentido de acolher nas suas fileiras uma
representante desse governo? De que vale entrar de malas e bagagens na
prefeitura de ACM Neto, ilustre representante na Bahia dos interesses que a
direita brasileira defende no Congresso nacional?
Qualquer aliança é
válida?
Há
muito tempo se tornou prática comum na política brasileira a formação de
alianças baseadas no fisiologismo e na conciliação de interesses para ocupar
cargos públicos. Nas eleições essa prática se exacerba ao ponto de termos
exemplos como a disputa pelo Senado do ano passado, onde Otto Alencar (PSD),
outrora projetado na política pelo carlismo, foi o candidato da chapa petista e
teve como principal adversário Geddel Vieira Lima (PMDB) que já foi do campo
carlista, depois rompeu e aliou-se a Jacques Wagner, para em seguida romper
novamente e regressar ao campo de apoio a ACM Neto e Paulo Souto. Em 2012
causou espanto em muitos militantes o pacto celebrado entre Lula e Maluf para
turbinar a candidatura de Fernado Hadad a prefeitura de São Paulo. Inúmeros são
os exemplos desse tipo de prática onde inimigos “inconciliáveis” do passado
tornam-se íntimos aliados hoje, para em seguida amanhã se divorciarem novamente.
Nós
do PSTU sempre denunciamos esse vale tudo. Para nós a prática política, inclusive
as alianças, devem ser feitas em base a um programa. O programa nada mais é que
uma compreensão comum sobre a realidade e as tarefas. Mais ainda, nós, que reivindicamos
a tradição da esquerda socialista, temos princípios que nos impendem, por
exemplo, romper as fronteiras de classe. ACM Neto junto com o DEM, o PSDB, o
PMDB, e os demais partidos da direita brasileira são a encarnação do projeto
político da burguesia. Um projeto de sociedade que tem o objetivo de garantir a
manutenção dos seus privilégios ás custas da perpetuação das profundas
desigualdades sociais, da exploração e da opressão da classe trabalhadora que é
a imensa maioria do povo.
Qualquer
pacto, aliança, ou tática que represente uma aproximação com ACM Neto é uma
ruptura com a perspectiva de intervir na política para mudar os rumos da
própria política. Recentemente o PPL, assim como nós do PSTU e também o PCB e
PCO sofremos um duro ataque com a reforma política aprovada no Congresso.
Ataque que em seguida foi estendido ao PSOL com a restrição de sua participação
nos debates de TV e rádio.
Os
grandes partidos fizeram uma aliança para mudar as regras da eleições em benefício
próprio. Desse modo pretendem evitar que outros sujeitos políticos se postulem
como alternativa e dessa forma ameacem sua hegemonia na política brasileira. A
ocasião desse duro ataque nos aproximou do PPL através de uma ação conjunta,
tática, para tentar barrar essa verdadeira contrarreforma que traz sérias
restrições aos já frágeis direitos democráticos.
Ao
aceitar o ingresso nas suas fileiras da vice-prefeita de Salvador, e dessa
forma ingressar na administração de ACM Neto, o PPL impôs a si próprio a
contradição de aliar-se ao seu algoz. O DEM é um dos mais entusiastas
defensores dessa reforma política que na prática lançará a nós, o PCB, PCO e o
próprio PPL numa espécie de semilegalidade. Tamanha contradição só expõe os
limites desse partido e de qualquer outra organização que se move na luta política
sem uma sólida definição estratégica.
Quem
se move apenas pela conjuntura, ao sabor dos ventos de hoje e sem passar o
amanhã está fadado a cometer erros. Nós marxistas damos grande valor a relação
entre as táticas e a estratégia, e entre ambas e os princípios. Evidentemente
que as frequentes mudanças de conjuntura e toda riqueza de elementos que dão
forma a luta de classes nos exigem flexibilidade tática. Porém não temos o
direito de lançar mão de táticas que sejam divorciadas dos princípios que nos
colocam na trincheira oposta dos nossos inimigos de classe.
Questionamos
o PPL sobre qual saída esse partido oferece para mudar o quadro atual e colocar
a política brasileira num caminho diferente que traga verdadeiras mudanças?
Como é possível mudar, combater a corrupção, medidas como a reforma política, o
ajuste fiscal, a precarização dos serviços públicos e uma longa lista de
injustiças, aliando-se aos mesmos partidos e lideranças que representam quem
sempre se beneficiou com tudo isso?
Humildemente
nós do PSTU reconhecemos que não temos todas as respostas. No entanto, seguimos
acreditando que trilhar o caminho da independência de classe, da mais
intransigente negação de qualquer aliança com os representantes da minoria
privilegiada, é o meio pelo qual poderemos junto a classe trabalhadora
encontrar a saída para mudar as coisas.
Ansiosos
pela resposta, passamos a palavra a direção do PPL.
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