|Por André
Freire, Salvador (BA)
No
dia 29 de setembro, a Presidente Dilma sancionou a reforma política/eleitoral,
aprovada pelo Congresso Nacional. Uma reforma de cunho antidemocrático e
reacionário.
Dilma
vetou apenas a proposta de financiamento das campanhas eleitorais pelas
empresas. Na verdade, uma medida que já estava garantida pela aprovação de ação
da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Supremo Tribunal Federal (STF). E,
também, vetou a obrigatoriedade da impressão do voto eletrônico.
De
resto, sancionou todos os artigos da reforma política antidemocrática do
famigerado Eduardo Cunha e da maioria corrupta do Congresso Nacional. Mais uma
vez o governo do PT se coloca de joelhos diante das ordens do comando do PMDB.
Logo
após as gigantescas manifestações de junho de 2013, o Governo do PT chegou
propor uma reforma política, buscando responder a força daqueles protestos que
tomaram conta do Brasil, questionando, entre outros temas, a corrupção na
política em nosso país.
Muitos
movimentos sociais e organizações políticas, como a Consulta Popular e o
Levante Popular da Juventude, acreditaram na tese de que era possível
pressionar o governo do PT para conquistar uma Constituinte Exclusiva para
Reforma Política, que garantisse mudanças significativas e avanços democráticos
em nosso sistema político.
Agora,
um pouco mais de dois anos depois, não só a tal constituinte exclusiva não saiu
do papel, como a Presidente Dilma sanciona uma mera reforma eleitoral, que
consegue piorar o que já era muito ruim, fechando ainda mais os já limitados
espaços democráticos do regime político brasileiro.
E
de se esperar, sinceramente, que essas organizações e movimentos tirem suas
lições e conclusões políticas sobre todo este processo e o terrível resultado
que se chegou com ele.
Segundo
a nova lei, sancionada por Dilma, somente 10% do tempo de TV e rádio será
dividido igualmente entre todos partidos. E 90% do tempo será dividido entre os
partidos com representação na Câmara Federal. Ou seja, uma alteração que
beneficia ainda mais os partidos que governam ou já governaram nosso pais, e
que são financiados pelas grandes empresas. Um absurdo!
Também
só se torna obrigatória a participarão nos debates de TV os candidatos dos
partidos/frentes eleitorais que possuírem nove deputados federais ou mais.
Outra medida antidemocrática que retira também os candidatos do PSTU, PCB, PSOL,
entre outros, desta cobertura de grande visibilidade na mídia.
Já
havia uma profunda desigualdade na distribuição do tempo na TV e no rádio (o
que piora ainda mais com esta reforma) e na cobertura da grande imprensa das
campanhas eleitorais. Agora, com essas medidas, se joga na prática a chamada
esquerda socialista, partidos como PSTU e PCB, em uma espécie de semilegalidade.
Medidas essas que são aprovadas justo em um governo do PT e sancionadas por sua
presidente da República. Mais uma grande traição deste partido e do seu
governo.
Infelizmente,
apesar de alguns posicionamentos importantes, contrários a esta reforma
política reacionária, não houve grande mobilização e repercussão sequer nos
movimentos sociais contra essas medidas absurdas. Houve, na verdade, um
silêncio cúmplice das mais importantes organizações dos movimentos sociais e
dos partidos que apoiam o governo Dilma.
De
acordo com o entendimento majoritário no STF sobre a ação da OAB, a proibição
do financiamento de empresas das campanhas eleitorais deve valer já para as
eleições de 2016. O que é o mínimo que se espera. Mas, o PMDB quer ainda, via
manobras no Congresso Nacional, evitar que esta proibição valha para as
próximas eleições.
Esperamos
ainda que as medidas aprovadas “a toque de caixa” pelo Congresso Nacional,
formado por uma maioria de parlamentares que tiveram suas campanhas eleitorais
financiadas pelas grandes empresas (inclusive as empreiteiras envolvidas nos
escândalos da Lava Jato) e sancionadas por Dilma, que mudam para pior a forma
de organização do nosso sistema eleitoral, no mínimo valham somente a partir
dos resultados das eleições de 2018. Porque não se pode mudar as regras
eleitorais no meio de uma legislatura em andamento.
Mas,
infelizmente, sequer este entendimento justo está garantido. De fato, a maioria
dos grandes partidos, financiados pelas grandes empresas, quer retirar os
partidos da esquerda socialista do horário eleitoral de TV e rádio já nas
eleições de 2016.
E
sempre bom lembrar que ainda tramita no Senado um projeto de Emenda
Constitucional, que retira todo o tempo na TV e no Radio, e também o Fundo Partidário,
dos partidos que não tem, neste momento, representação na Câmara Federal. E
essa PEC já foi aprovada em dois turnos pelos deputados.
Fazem
de tudo para calar e evitar que exista uma alternativa política dos
trabalhadores, socialista e de esquerda com visibilidade para a classe
trabalhadora, a juventude e a maioria do povo, diante do fracasso do projeto de
conciliação de classes do PT.
Para derrotar esta reforma
política antidemocrática e reacionária temos que afirmar ainda mais uma
alternativa classista e socialista no processo de lutas e mobilizações da
classe trabalhadora e da juventude. A palavra final sobre esta verdadeira
guerra será dada nas ruas e nas greves e não entre as paredes do Congresso
Nacional, cada vez mais corrupto e antipopular.