Para sair da crise, o Brasil precisa de uma alternativa pela esquerda,
socialista e dos trabalhadores!
Por Joallan Rocha, Salvador (BA)
A crise política no Brasil se aprofunda a
cada dia. Há tempos não vemos uma conjuntura tão dinâmica e agitada. A crise
nas alturas ganha contornos imprevisíveis. A reprovação do governo chega a 71%,
alcançando índices piores que o governo Collor às vésperas do impeachment, em
1992. O governo perdeu o controle da crise. Os partidos aliados, como o PTB e o
PDT abandonam a base de sustentação do governo. A crescente instabilidade é a marca do próximo
período.
“Pode-se morrer de
tudo, menos de tedio”
Durante a semana, o mais importante dirigente
do PT, depois de Lula, foi preso pela segunda vez, por envolvimento nos
escândalos de corrupção da Petrobras. Em uma entrevista ao jornal Estadão, o ex
governador do PT, Tarso Genro, constatou que “O PT chegou ao fim de um Ciclo”.
O vice presidente, Michel Temer, reconheceu que “há uma crise política se ensaiando, uma
crise econômica que está precisando ser ajustada mas, para tanto, é preciso
contar com o Congresso Nacional, com os vários setores da nacionalidade
brasileira" e propõe um grande pacto nacional entre o governo,
o congresso e os partidos para manter a governabilidade. Segundo ele “ é preciso que
alguém tenha a capacidade de reunificar, reunir a todos e fazer este apelo...”.
A grande preocupação de
Temer é que as classes dirigentes percam o controle da situação política, “podemos entrar numa crise desagradável para
o País”. As fissuras politicas nas classes dominantes podem abrir a
possibilidade de que amplos setores da população e da classe trabalhadora
brasileira entrem em cena e sejam protagonistas dos acontecimentos políticos.
As declarações de Temer buscam evitar que a crise nas alturas inviabilize a aplicação
do ajuste fiscal sobre
os ombros da classe trabalhadora.
Todo
esse cenário turbulento pode gerar uma avaliação superficial de que apenas
estamos frente a uma crise nas alturas palacianas? Uma disputa eleitoral entre o PT, o PSDB e o PMDB com vistas
às próximas eleições em 2016 e 2018?
As Jornadas de Junho
de 2013 provocaram um terremoto na política brasileira
Em
nossa opinião não se trata de uma crise qualquer ou conjuntural. O Brasil
mudou. Mudanças importantes ocorreram na correlação de forças entre as classes
sociais. As Jornadas de Junho de 2013 provocaram um terremoto na política
brasileira de enormes proporções. A hegemonia da dominação burguesa no Brasil
foi questionada. A estabilidade política deu lugar a uma profunda instabilidade
no regime político. O PT, o principal
partido da democracia burguesa brasileira nos últimos 30 anos, entrou em uma
profunda crise de legitimidade, irreversível.
Há
doze anos atrás esse partido representava a esperança de milhões de brasileiros.
Os governos do PT (Lula e Dilma), ou melhor, o Lulismo, foram a expressão de uma estratégia política
que buscou governar o Brasil, aliando interesses de classes antagônicos, ou
melhor, “governar para Todos”. Para a consolidação da sua estratégia, o PT
contou com um clico de crescimento econômico favorável, o apoio majoritário na
classe trabalhadora e o controle sobre as principais organizações sindicais e
movimentos sociais no país. O esgotamento do Lulismo e a crise histórica do PT
expressam a falência de uma estratégia política que buscava reformar o
capitalismo brasileiro, “para que tudo siga igual”.
O esgotamento do Lulismo
e a crise histórica do PT
Nos
três primeiros mandatos o PT foi bem-sucedido em sua estratégia de conciliação
de classes. Por um lado, os empresários, os banqueiros, as construtoras, o
agronegócio, não cansavam de tecer elogios aos governos Lula e a Dilma. Lula se
transformou em uma liderança mundial, aplaudida e reverenciada por todas as instituições
mundiais, do FMI à ONU. O prestigio de Lula, o controle exercido pelo PT sobre
as organizações sindicais evitou que o Brasil entrasse no turbilhão de Revoltas
e rebeliões populares que atingiram vários países da América latina, a partir
dos anos 200º (Argentina em 2001, Bolívia em 2000, 2003 e 2005, Equador em 2000
e 2005).
Enquanto
nas alturas predominava a estabilidade política, por baixo se acumulavam as
contradições sociais. Os conflitos sociais alcançaram níveis importantes a
partir de 2012. As greves, em setores importantes da classe operaria
brasileira, contra a precarização do trabalho e os baixos salários demonstrava
que as fissuras entre o governo do PT e os trabalhadores ganhava novas
cores. No auge da estabilidade política,
quando Dilma alcançava níveis elevadíssimos de popularidade, ocorreram as
mobilizações de junho de 2013. Os governos, os partidos tradicionais e o
congresso nacional são os mais afetados pela rebelião popular.
As
jornadas de junho abriram um novo momento na crise do PT, agora de dimensões
históricas. A transformação do PT e dos seus dirigentes em agentes do
capitalismo brasileiro cobrou um enorme preço. A insatisfação popular tem
provocado a ruptura de amplos setores da classe trabalhadora com sua principal
direção política. A estratégia e o discurso de “Governar para Todos” se reduziu
a poeira cósmica quando se fechou o ciclo de crescimento econômico. A máscara
do PT caiu.
O ajuste fiscal: o
neoliberalismo requentado do governo Dilma
O
ajuste fiscal aplicado pelo governo Dilma tem significado um enorme sacrifício
para milhões de brasileiros, em particular os trabalhadores. Os trabalhadores e
a população mais pobre sente a cada dia que sua vida está cada vez pior, os
salários não alcançam para cobrir a inflação crescente e os serviços públicos
estão cada vez mais sucateados. O ajuste fiscal representa mais cortes do
orçamento nas áreas sociais (saúde, reforma agraria, educação etc), enquanto os
bancos têm lucros recordes e metade do orçamento do país é utilizado para pagar
as dívidas interna e externa.
O
PT se curvou de uma vez aos interesses dos ricos, e agora, frente a crise, se
comporta como qualquer partido da direita neoliberal. A declaração de Aloisio
Mercadante reconhecendo os erros do PT e do governo, e apoiando as políticas
implementadas pelo PSDB entre 1994 e 2002, são um atestado da transformação do PT em um partido da
ordem. Segundo Mercadante “a importância
histórica que eles tiveram no governo do país, especialmente na contribuição da
estabilidade econômica do país, e que esse passado, esse programa, essa
história, não pode se transformar agora nesse debate, de simplesmente de
confrontação, de intransigência e de radicalização. O Brasil precisa de
bom-senso, de equilíbrio, de estabilidade” (O Globo, 05/08/2015).
Como
as declarações não foram desmentidas pelo PT, pelo governo e muito menos por
Mercadante, é possível prever que estamos frente a possibilidade, a depender da
evolução da crise, de um acordo nas alturas entre o PT e o PSDB para manter a
“governabilidade” até as eleições de 2018.
A ofensiva da direita: uma saída reacionária
A
estratégia do impeachment, defendida por alguns setores da direita e da ultradireita,
é hoje, apoiada maioria da população (66% segundo a pesquisa DATAFOLHA). No entanto,
esta não é ainda a primeira opção das classes dirigentes. O impeachment poderia
precipitar o aprofundamento da crise política, o que inviabilizaria a aplicação
do ajuste fiscal. Mas, não podemos descartar a saída de Dilma antes do fim do
mandato em 2018. Tudo depende do êxito ou do fracasso do governo na aplicação
do ajuste, da evolução da situação política e econômica do país, e, sobretudo,
da capacidade de luta dos trabalhadores para derrotar o ajuste e retomar
iniciativa política.
Apesar
da enorme disposição dos trabalhadores em sair a luta, vide as greves que tem
ocorrido. No entanto essa disposição não foi suficiente para impor até o
momento a unidade dos trabalhadores brasileiros em uma grande greve nacional.
Apenas uma luta nacional de todos os setores poderá impor uma derrota ao ajuste
fiscal e aos ataques que estão sendo realizados.
O mês
de agosto será decisivo no desenvolvimento dos acontecimentos políticos no
país. Está sendo convocada pela direita reacionária uma manifestação no dia 16 de
agosto, cujo centro será a derrubada do governo. A oposição de direita se
fortaleceu com a desmoralização do PT e agora buscam capitalizar o
descontentamento da população, se apresentando como alternativa. A saída que
apresentam é reacionária na medida em que propõe o impeachment de Dilma para
que a velha direita retome a presidência, seja pelas do PMDB, ou até mesmo do
PSDB, caso sejam convocadas novas eleições. Esta não é a alternativa que os
trabalhadores precisam. Por isso não devemos participar ou apoiar nenhuma
iniciativa que aponta uma saída pela direita para a crise.
A saída é pela esquerda: é preciso retomar a
iniciativa política independente dos trabalhadores
A
única saída possível é retomar a iniciativa política independente dos
trabalhadores, da juventude e dos setores combativos. Nesse sentido é um erro
convocar ou participar de uma mobilização cujo centro é a defesa do governo. Os
companheiros do MTST e do PSOL estão convocando uma manifestação no dia 20 de
agosto em unidade com o PT, PC do B, MST, UNE, cujo centro é a luta “contra o
golpismo e em defesa da democracia”.
No
momento em que o governo se encontra completamente desmoralizado frente aos
trabalhadores e a população pobre, convocar uma manifestação em sua defesa, é
um passo atrás na construção de um polo de esquerda e socialista, alternativo
ao PT e ao PSDB. A nota assinada pelas diferentes organizações menciona tem
como eixo a “Tomar as ruas por direitos, liberdade e democracia. Contra a
direita e o ajuste fiscal”. Não há nenhuma menção ao governo Dilma. Na prática
a manifestação do dia 20 servira para o PT blindar o governo.
A
nota da executiva do partido convocando para o dia 20 de agosto nem menciona a
luta contra o ajuste fiscal e a retirada de direitos, “os ataques ao Partido dos Trabalhadores, ao ex-presidente Lula e
ao governo da Presidenta Dilma, não escondem seus propósitos conservadores e
antidemocráticos, exigindo uma reação imediata do nosso partido e do campo
democrático e popular. Diante da gravidade do momento político e da ofensiva da
direita contra as liberdades democráticas e os direitos humanos, políticos e
sociais, o PT conclama o engajamento nacional da militância petista no
calendário de mobilizações em defesa da democracia, das reformas estruturais e
por mudanças na política econômica”.
As responsabilidades da esquerda socialista na
atual conjuntura
Os
companheiros do PSOL e do MTST precisam rever sua posição vacilante, que na
prática acaba fazendo o jogo do governo. A oposição de esquerda tem uma grande
responsabilidade, em particular o PSTU e o PSOL. A esquerda socialista não pode
se transformar no último vagão do bloco governista. Precisamos construir um
polo alternativo, um terceiro campo que vá além das ações pontuais, e se
constitua como uma referência política para milhões de trabalhadores e jovens.
Não temos muito tempo. A luta de classes se aprofunda. A conjuntura tem demonstrado que as ações
unitárias que ocorreram foram importantes, mas insuficientes.
A
conjuntura exige iniciativa política. Carregamos em nossos ombros a responsabilidade
de que a crise história do PT não represente um passo atrás. Seguimos
levantando com orgulho as bandeiras históricas abandonadas pelo PT.
Setores sociais importantes da sociedade brasileira se separam dos
partidos tradicionais, os trabalhadores rompem e se distanciam do mais
importante deles, o Partido dos Trabalhadores, a direção histórica da classe
operaria brasileira nos últimos 30 anos.
Nos aproximamos daqueles momentos decisivos na história.
A
justa analise da relação de forças é crucial. Não há uma única saída para a
crise atual. O seu resultado não está predeterminado de antemão, nem está
automaticamente definido. Tudo vai depender da capacidade de iniciativa
política do conjunto dos trabalhadores brasileiros. Essa é a discussão mais
importante. A justa analise da relação de forças precisa articular todos os
aspectos, os objetivos e subjetivos. Nem todos se encontram no mesmo patamar de
desenvolvimento. É preciso agarrar a história em nossas mãos. Nem o pessimismo
estéril, nem o otimismo infantil.
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