Por
José Maria de Almeida, presidente nacional do PSTU
Pela
segunda vez é expedido mandado de prisão contra Zé Dirceu, liderança histórica
do Partido dos Trabalhadores e que exerce ainda muita influência entre os
dirigentes partidários. A acusação é a mesma da prisão passada, com um detalhe
que faz muita diferença – agora os investigadores acusam Dirceu de
enriquecimento ilícito, além da corrupção para financiar campanhas e atividades
de seu partido.
Naquele
momento, mesmo frente a todas as evidencias de que estes dirigentes tinham
praticado crime de corrupção, ainda houve muita movimentação de dirigentes e
militantes petistas para defender Zé Dirceu e tentar transformá-lo em herói da
luta do povo perseguido pela “direita”. Não sei se agora, com as informações
que vieram a público sobre os benefícios pessoais que obteve de todo este
processo, isso vai se repetir. Mas quero, de toda forma, levantar algumas
questões para refletirmos.
Não
há o que comemorar com a prisão, mas tampouco há o que defender nestes
dirigentes
Quando
da primeira prisão eu escrevi que se tratava de um fato ante o qual não havia o
que comemorar, pois era a expressão de uma dura derrota da classe trabalhadora.
Veja, a derrota que falo aqui não é a prisão em si, e sim o fato de que ela era
o ponto de chegada de um longo – e profundo - processo de degeneração deste
partido. A origem do processo de degeneração remonta às decisões da direção do
PT pela aliança com os grandes empresários, e a decisão de governar por dentro
das instituições do Estado capitalista, calcadas na corrupção. De esperança dos
trabalhadores, o PT, chegando ao governo, se transformou em seu algoz,
aliando-se aos bancos e grandes empresas. E, para governar, adotou os mesmos
métodos (corrupção) dos partidos que antes criticava. Esta é a derrota.
Por
outro lado, não havendo o que comemorar, tampouco havia o que defender naqueles
dirigentes. Há muito haviam abandonado a defesa dos direitos e interesses dos
trabalhadores, para defender os bancos, as multinacionais e o grande
empresariado. Esta situação é, hoje, ainda mais aguda. A revolta contra o PT
que existe entre os trabalhadores brasileiros – em especial a classe operária –
é expressão de que a compreensão deste fato está disseminada por toda a classe.
E é indefensável o que fizeram: usar seus cargos públicos para praticar corrupção
com dinheiro do povo.
A
burguesia, através de seus órgãos de imprensa, usa isso para tentar vender aos
trabalhadores a ideia de que somos todos iguais. Que, se o PT é assim, toda a
esquerda é assim, todos os socialistas são assim. Querem convencer os trabalhadores
de que não há saída, não há o que fazer porque esta situação nunca vai mudar. O
que cabe a nós, a todos e todas que continuam na luta dos trabalhadores, na
luta pelo socialismo, é mostrar aos trabalhadores que não temos nada a ver com
isso, não temos a mais mínima responsabilidade pela tragédia que representa
hoje a direção do PT.
Precisamos
mostrar aos trabalhadores que é possível sim, fazer escolhas diferentes das que
eles fizeram e que os trabalhadores governem o país, acabando com toda forma de
exploração e opressão, mas também com a corrupção, este câncer tão
característico do capitalismo. Que devemos e podemos nos organizar e lutar para
atingir este objetivo. Não há como fazer isso sem condenar duramente estes
dirigentes pelo que fizeram.
Corrupção,
julgamento político e justiça burguesa
É
sim, político, o caráter das investigações em curso, bem como de muitas das
prisões efetuadas. Não tem nada de imparcial ou de isento no que a justiça
brasileira faz. Concordamos com este aspecto da crítica que fazem os dirigentes
e muitos militantes do PT. Pena que só agora, depois de 12 anos no governo,
tenham acordado para esta realidade. Os trabalhadores sabem disso faz tempo.
Todas as greves, ocupações, manifestações de rua que fazemos são atacadas por
esta mesma polícia e essa mesma justiça, que é de classe, que defende os
interesses do poder econômico e não de toda a população.
Diante
de todo o espalhafato feito a partir da Operação Lava Jato, há muitas perguntas
que seguem esperando resposta: porque Maluf ainda não está preso? E Collor de
Mello? E o mensalão do PSDB, anterior ainda ao do PT? E a corrupção no Metrô de
São Paulo, envolvendo empreiteiras e os governos do PSDB? E o helicóptero cheio
de cocaína encontrado em Minas Gerais? E o aeroporto nas terras da família de
Aécio Neves? Poderíamos ficar dias citando casos nítidos de corrupção, não
apurados ou não punidos. Tentar circunscrever então, a corrupção aos governos
petistas é puro cinismo da burguesia, de seus partidos e da sua mídia.
Não
podemos, então, deixar de denunciar a hipocrisia desta campanha “pela
moralidade” feita pela burguesia e seus órgãos de imprensa. Nem deixar de
exigir que sejam apurados todos os casos de corrupção envolvendo a quem quer
que seja. E que sejam punidos todos os corruptos e corruptores, com cadeia e
confisco dos bens. Tampouco se pode fechar os olhos a métodos de apuração e a
prisões que são feitas ao arrepio de qualquer norma democrática. Não aceitamos
e denunciamos quando são praticadas contra as nossas lutas e nossas
organizações e não podemos aceitá-las, portanto, em nenhuma circunstância.
No
entanto, o que está dito acima – que são fatos – não exime os dirigentes
petistas e a Zé Dirceu do que fizeram. A corrupção que praticaram é prejudicial
ao país e aos trabalhadores. E eles precisam pagar pelo que fizeram. O ideal é
que fossem julgados pelos próprios trabalhadores a quem traíram fazendo o que
fizeram, pois não se pode nunca confiar na justiça burguesa, mas hoje não temos
condições de fazê-lo. Então eles têm de enfrentar a justiça da burguesia que aí
está, e que ajudaram a fortalecer nos doze anos em que governam o país.
Trata-se de consequência de escolhas feitas por eles mesmos.
Retomar
e levar adiante nosso sonho socialista
Portanto,
como se diz por aí “nem rir, nem chorar...compreender”. Esta é a necessidade
que está colocada e por isso é importante a reflexão. Uma compreensão correta
do cenário em que estamos é fundamental, especialmente aos que se identificam
com o PT e que permanecem na luta da classe trabalhadora. O momento não de
defender estes dirigentes, mas tampouco de se desmoralizar pelo que fizeram. O
momento é de deixar para traz uma experiência que fracassou.
Não
podemos deixar que estes dirigentes roubem também os nossos sonhos. O momento é
o de erguer mais alto ainda as bandeiras da independência de classe, do
socialismo e da construção de um partido que possa extrair as lições da
experiência do PT e aprender com elas. Um partido que possa ser o instrumento
político para a luta pela libertação dos trabalhadores e da juventude
brasileira das mazelas do capitalismo. Um partido socialista e revolucionário.
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